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Ângelo Antônio protagoniza drama familiar "Entre Vales"

Neusa Barbosa

Do Cineweb

07/05/2014 16h29

Segundo longa do diretor paulista Philippe Barcinski, o drama "Entre Vales", que estreia nesta quinta (8), é um filme que se alimenta especialmente da energia de um ator, o protagonista Ângelo Antônio.

Todo este emotivo relato da radical transformação da vida de um homem a partir de uma imensa perda gira em torno dele. Então, pelo desafio, é compreensível que o ator tenha abraçado o projeto com toda a paixão e se tornado um de seus produtores.

Tal como acontecia em seu primeiro longa, "Não por Acaso" (2007), há um apuro técnico incontestável na fotografia de Walter Carvalho, que tem como objeto, em boa parte do tempo, cenários desprovidos de qualquer beleza, como aterros sanitários e lixões.

Mais uma vez, como no primeiro trabalho do diretor, a história é contada fora da ordem cronológica, o que permite alguns voos na narrativa.

Nem uma coisa nem outra, no entanto, impedem o sentimento de que há segmentos que poderiam ter sido mais bem explorados - por exemplo, o distanciamento de Vicente (Ângelo Antônio) e da mulher, a dentista Marina (Melissa Vettore).

Esta questão se insinua, mas não é foco da história. O filme é excessivamente centrado na visão do protagonista, e isto pesa contra o interesse no enredo como um todo.

Vicente, que era um arquiteto, sócio de uma empresa de tecnologia ambiental, vivia dentro de um mundo controlado, como as maquetes que ele monta para o filho (Matheus Restiffe) seu grande afeto.

É como se os dois ocupassem um mundo à parte, em que mesmo a mãe não penetrasse. Ou esse parece ser o sonho secreto de Vicente, já que ele pouco se relaciona com Marina e lida mal com a distância entre os dois, evitando conversar sobre isso. Ela, ao contrário, até tenta falar da crise, sem êxito.

O abalo no casamento, a iminente separação, o desmonte da empresa que ajudou a criar - liderada pelo sócio majoritário, Carlos (o ator uruguaio Daniel Hendler, de "As leis de família") tudo isso vai rompendo a crosta em que Vicente se fechou. O filho é o único a entrar em seu espaço afetivo. E aí mesmo é que ocorre a grande tragédia.

Diante dela, Vicente perde todo vestígio de identidade o trabalho, a casa, o carro, até o nome. Ele se despoja de tudo, abraçando a rua, o trabalho num lixão.

Esboça-se uma possibilidade de renascimento, quando ele encontra solidariedade de colegas, pessoas que desconhecem seu passado, até porque ele nunca se abre.

Uma delas é interpretada por Inês Peixoto, a atriz do esplêndido grupo mineiro Galpão, que interpreta uma funcionária de uma usina de triagem de lixo e abre uma das possibilidades de convívio com este homem que se entregou à dor como a uma espécie de morte em vida, uma culpa surda, talvez.

Não há opção para o espectador a não ser mergulhar nesta espiral de sofrimento e uma tênue possibilidade de superação. O trabalho de Ângelo Antônio, como sempre, é muito intenso.

Embora, ao final, se possa também ter a sensação de que um pouco menos de intensidade somaria mais à fruição de uma história no fundo muito fechada num único foco.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb