"Violetta: O Show" deixa a desejar acompanhando turnê de novela teen
Dentro de poucos dias, será o aniversário de 50 anos do lançamento de "Os Reis do Iê-Iê-Iê" (1964), primeiro filme realizado pelos Beatles, em que a banda, seguindo o caminho trilhado por Elvis Presley, confirmou o potencial de promoção do cinema para suas músicas.
Desde então, foram vários os grupos e artistas que se aproveitaram da telona como forma de amplificar seus sucessos. E, nos últimos anos, há um fenômeno de musicais que documentam as turnês de lendas do rock, como U2 e Metallica, mas principalmente de sensações pop, a exemplo de Jonas Brothers, Justin Bieber, Katy Perry e One Direction, e até de shows derivados das séries televisivas "Hannah Montana" (2006-2011) e "Glee" (2009-).
A Disney não perderia a chance de pegar carona nessa onda com seu mais novo sucesso, "Violetta" (2012-), novela argentina —coprodução dos Disney Channel´s Latino, Europa, Oriente Médio e África, com uma produtora local— que tem alcançado bons números de audiência e altos lucros no mercado internacional.
O êxito da história da garota superprotegida pelo pai, vivida por Martina Stoessel, que volta a Buenos Aires, onde encontra amigos, o amor e seu talento para a música, motivaram a excursão do elenco jovem da atração pela América Latina e Europa, entre o final do ano passado e início deste.
O que originou o filme "Violetta: O Show" (2014), de Mathew Amos, diretor de outros concertos, premiações musicais e videoclipes. O filme estreia nesta quinta (26).
Quem for assistir ao registro cinematográfico deve se preparar para gritos, gritos e mais gritos: sejam os da plateia italiana do show em Milão, onde foram gravados os números musicais apresentados no documentário, até os possíveis berros do público infanto-juvenil nas salas de cinema daqui.
De qualquer modo, para quem já foi muito fã de alguma banda ou artista na adolescência, é impossível não se identificar com as meninas histéricas pelo galã da novela —Jorge Blanco que interpreta o protagonista León— que, além de estarem vestidas a caráter, com faixinha na cabeça e tudo, sabem todas as canções de cor e acenam efusivamente para as câmeras.
No mínimo, o espectador poderá compadecer-se dos pais que aparecem na tela, que acompanham fielmente seus filhos nos sonhos deles em relação aos seus ídolos.
Por isso, o longa-metragem já começa com os depoimentos em off do elenco multinacional do programa —além dos argentinos, há espanhóis, mexicanos, uma italiana e até o brasileiro Samuel Nascimento— falando da emoção de entrar no palco, com os gritos do público e coisas afins.
A partir daí, as apresentações das músicas mais famosas da trilha da atração são intercaladas por imagens dos bastidores do encerramento da turnê em Buenos Aires e entrevistas com os atores, já que eles só estão na pele de seus respectivos personagens quando sobem ao palco.
Os jovens falam da preparação vocal, dos ensaios de coreografia, o que costumam pensar e como se concentram antes dos shows, o que a emoção e dedicação dos fãs significam para eles, entre outros assuntos também óbvios.
Aliás, como documentário, "Violetta: O Show" deixa muito a desejar por não trazer nada de novo na cobertura dessa excursão, não conseguindo apresentar um viés diferente para o filme, nem ao menos tentando arrancar alguma declaração diferente do esperado dos astros da novela.
Enquanto musical, o longa se vale de uma edição muito rápida no show, como é costume em produções do gênero, mas que carece de planos mais próximos de alguns integrantes do elenco em certos momentos em que estão cantando.
Provavelmente, uma tática para disfarçar o "playback" existente em boa parte das apresentações, que não passa despercebido aos olhos e ouvidos mais atentos, restando apenas alguns números —em geral os românticos e mais calmos— em que é possível desfrutar da voz dos cantores ao vivo.
O uso do recurso é culpa do próprio estilo de música que têm de cantar: o pop pasteurizado que é corriqueiro nos programas musicais teen, de "Rebelde" (2004-2006) a "High School Musical" (2006), com batidas eletrônicas e guitarras dando o ritmo acelerado que exige mais vigor físico nas coreografias do que talento nas cordas vocais.
É uma forma de atingir um público maior e alçar voos internacionais, que foram bem sucedidos no caso de "Violetta", mesmo com as canções em espanhol, embora tenham algumas referências em inglês, aqui e ali. Mas não deixa de ser uma pena que não seja dado espaço aos ritmos e instrumentos regionais argentinos, ou, ao menos, latinos.
Entretanto, as letras sobre amor, amizade, o poder da música e a luta pelos sonhos têm a capacidade de conquistar as meninas e meninos que assistam à novela ou ao filme, sem que lhes saia da cabeça tão facilmente. E quem é fã da atração, com certeza, irá se deliciar em poder ver seus ídolos maximizados na tela do cinema, em alto e bom som.
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