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Documentário defende papel histórico do rabino Henry Sobel

Rodrigo Zavala

Do Cineweb, em São Paulo

10/09/2014 15h58

Em março de 2007, o rabino Henry Sobel foi preso pela polícia em Palm Beach, nos Estados Unidos, por roubar gravatas de uma loja. Um dos mais importantes líderes religiosos brasileiros viu então sua reputação reduzida a frangalhos e uma vida dedicada à comunidade virar nota de rodapé das inúmeras reportagens sobre o delito, que questionavam até sua sanidade mental.

O amargo episódio que o afastou da Congregação Israelita Paulista (CIP), cuja liderança exerceu por 37 anos, e o levou a uma vida mais reclusa, é infinitamente menor do que a importância de Sobel na história brasileira. E é esse o ponto de vista que move o documentarista André Bushatsky em seu primeiro longa, "A História do Homem Henry Sobel", que estreia nesta quinta (11).

Por meio de entrevistas com amigos de Sobel, jornalistas, estudiosos e lideranças judaicas, o cineasta reconstitui a vida do rabino (hoje emérito pela CIP), pontuando seus grandes momentos. Descreve-se a educação rabínica nos Estados Unidos, a ascendência na congregação em São Paulo e sua atuação mais progressista na instituição, a abnegada luta pela defesa de direitos e, sem dúvida, seu importante trabalho para remover o estigma do judaísmo como religião intramuros.

Aqui, um dos mais importantes temas trabalhados por Bushatsky é o caso do jornalista (judeu) Vladimir Herzog, morto em 1975. Na época, o órgão de repressão do Exército brasileiro afirmara que ele havia cometido suicídio na cela em que estava preso. Versão refutada até pelo rabino que, por isso, não acatou a prática judaica de enterrar suicidas na parte externa do cemitério, fazendo-o no centro da necrópole (mesmo sob ameaças do DOI - CODI).

Mais ainda, na semana seguinte à morte do jornalista, Sobel participou com D. Paulo Evaristo Arns e o reverendo James Wright de uma missa ecumênica na Praça da Sé, em São Paulo, que reuniu cerca de oito mil pessoas. O episódio tornou-se um dos marcos da luta contra a ditadura brasileira. O documentário, afinal, não procura contrapontos ao seu ponto de vista favorável ao personagem.

Mesmo quando Sobel se despe de orgulho para esmiuçar o episódio das gravatas, suas origens e consequências, o documentarista mantém o tom laudatório, apoiado por seus entrevistados. Não há dúvidas de que ele foi por 40 anos símbolo carismático da bondade e tolerância, mas que viu diluir sua identidade ao ser flagrado em pecado. Mas a complexidade do homem Sobel, nas suas escolhas e convicções, não se resume ao episódio, como mostrado aqui.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb