Michael Fassbender interpreta roqueiro de vanguarda em "Frank"
Descrever "Frank", do diretor irlandês Lenny Abrahamson, como um filme sobre uma banda de rock pode levar a imaginar uma produção recheada de música e conflitos entre os instrumentistas.
Se isso existe no filme, como se pode imaginar, todo o resto é bastante imprevisível numa história que, incrivelmente, é baseada em fatos reais, que o roteiro de Jon Ronson e Peter Straughan ficcionalizam. O longa estreia nesta quinta (16).
A história real foi vivida por Jon Ronson —interpretado na tela por Domhnall Gleeson. A estranheza vem de que a banda retratada nada tem de comum, a começar por um líder cujo rosto nunca é visto, já que ele vive coberto com uma enorme cabeça de papel machê, com olhos e cabelo pintados.
Ele é Frank (Michael Fassbender), um músico tido como genial e de vanguarda, cercado por uma trupe igualmente inusitada: o empresário Don (Scott McNairy), que tem uma fixação por manequins de vitrine; a feroz e antissocial Clara (Maggie Gyllenhaal); uma dupla francesa, Baraque (François Civil) e Nana (Carla Azar), que só se comunica na própria língua com quem quer que seja.
Se até ali viveu uma vida rotineira e banal, Jon é sacudido nas suas bases quando larga o emprego e aceita o convite de Don para substituir o tecladista da banda, que surtou. Especialmente quando os músicos se isolam numa cabana de madeira, no campo, para gravar o novo álbum.
Jon é o peixe fora d´água no grupo e Clara, Baraque e Nana nunca se privam de fazê-lo sentir-se sempre sobrando. Ele se sente naturalmente intimidado por Frank e sua cabeça. É dele que se emitem os sinais que comandam a instável rotina. Ou seja, quando Frank decide tocar e criar, é hora de entrar no clima. Quando ele entra em outras vibrações, nada mais a fazer do que esperar o tempo passar.
Em que pesem as esquisitices do grupo, o toque de realidade inserido pelo conhecimento de causa do corroteirista e as interpretações naturais do elenco ressaltam a humanidade de cada um. Caso o diretor perdesse a mão no meio de tantas excentricidades, tudo poderia se perder, ou soar falso. Não é isso o que acontece.
Usando sua cabeça de papel em mais de dois terços do filme, Michael Fassbender delineia um personagem rico em contradições, que passa da delicadeza à fúria, mas não desaba. É uma interpretação complexa, tanto mais delicada por homenagear uma pessoa real —Chris Sievey, o homem por trás do personagem-músico Frank Sidebottom, que usava realmente uma cabeça de papel e morreu em 2010, aos 54 anos.
Um clichê em que o filme não embarca é contrapor normalidade/loucura de um modo trivial. De várias maneiras, é a normalidade de um personagem que causa mais estrago e dor às vidas dos aparentes loucos de plantão.
Assista ao trailer legendado de "Frank"
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