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Geraldine Chaplin brilha no drama latino "Dólares de Areia"

Neusa Barbosa

Do Cineweb, em São Paulo

22/04/2015 16h25

Aos 70 anos, mais de 140 filmes nas costas, a atriz Geraldine Chaplin despoja-se de tudo isso e de qualquer vaidade para aparecer na tela, vulnerável física e psicologicamente, no drama latino "Dólares de Areia", dos diretores Israel Cárdenas e Laura Amelia Guzmán. O longa, que estreia nesta quinta (23), é o quarto da dupla: ele mexicano, ela dominicana.

Geraldine, que esteve em São Paulo na première nacional do filme, no encerramento da 38ª Mostra Internacional de Cinema, em 2014, é o epicentro dramático de uma história que aborda o turismo sexual mas não abre mão de ir mais fundo, adotando um ponto de vista sensível e humanista. Ou seja, procurando entender as razões sociais e psicológicas da questão.

No balneário dominicano de Las Terrenas, a francesa Anne (Geraldine) é uma figura habitual no hotel que recebe turistas europeus, como ela, na terceira idade e em busca de companhia e sexo. Há 3 anos, Anne envolveu-se com a jovem Noeli (a estreante Yanet Mojica) e, pelo menos para a mulher mais velha, a relação há muito tempo passou do sexo casual.

Adaptando com muita liberdade o romance homônimo do autor francês Jean-Noël Pancrazi, os diretores inserem habilmente o aspecto do sonho, da expectativa segundo cada uma das duas mulheres. Se a madura Anne, cujo corpo não esconde os sinais do envelhecimento, se desdobra em atenções para Noeli em busca de afeto e para salvar-se da solidão, para Noeli este relacionamento é outra coisa.

Muitas décadas mais jovem do que sua parceira e muito pobre, num país com poucas possibilidades de emprego, Noeli vê na proteção da estrangeira uma rota de fuga. Seu sonho é morar em Paris e, a partir de lá, com a ajuda de Anne, levar também seu namorado, Yeremi (Ricardo Ariel Toribio), que ela apresenta como seu irmão.

Um trunfo do filme é humanizar as personagens, atenuando a possibilidade de um tom de sordidez dominar o relato. Adota-se uma postura realista diante das intenções sem dúvida aproveitadoras de Noeli, mas sem deixar de observar de onde parte a mentalidade que ela criou.

Mas a grande joia do filme é mesmo Geraldine Chaplin. Sua Anne é nunca menos do que comovente, mesmo que também fique claro um viés manipulador, colonialista, até, em algumas de suas atitudes. Mas é o amor, um amor desesperado que guia seus atos, o que, com a capacidade de expressão da atriz, é garantia de emoção, para quem não se arvore excessivamente em juiz ou cruzado moralista.

A atuação de Geraldine valeu-lhe o prêmio de interpretação feminina no Festival Internacional de Chicago. Outro grande trunfo está na trilha sonora, pontuada pelo balanço caribenho do veterano Ramón Cordero.

Assista ao trailer legendado de "Dólares de Areia"

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb