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Com Adam Sandler melancólico, "Trocando os Pés" não diverte

Rodrigo Zavala

Do Cineweb, em São Paulo

27/05/2015 16h58

Moralmente ambígua, a nova empreitada de Adam Sandler é, de maneira direta, uma comédia que não diverte. No papel de um sapateiro infeliz que se transforma em seus clientes ao usar os sapatos recém consertados, o longa não cria realmente situações de humor e, quando tenta, passa muito próximo de preconceitos e até de um estupro.

Isso causa surpresa já que "Trocando os Pés", que estreia nesta quinta-feira (28), é dirigido e roteirizado pelo americano Thomas McCarthy, que se tornou conhecido pelos tocantes e humanizados "O Agente da Estação" (2003) e "O Visitante" (2007). Por mais que seja fácil identificar elementos de sua filmografia na nova produção, o resultado é nada menos do que um contraponto.

Pela história, Sandler é Max, quarta geração de uma família de sapateiros judeus a trabalhar em Lower East Side, Manhatan. A ascendência é mostrada a partir de um preâmbulo, que dá a entender que o filme se trata de uma fábula. Mas a expectativa é frustrada com o desenrolar da trama.

Melancólico e sem entusiasmo, Max passa o dia em sua loja e, eventualmente, na companhia do amigo barbeiro Jimmy (Steve Buscemi) e da mãe doente (Lynn Cohen), com quem mora. Há ainda uma líder comunitária, Carmen (Melonie Diaz), possível par romântico do protagonista, que luta para o conglomerado da vilã Elaine (Ellen Barkin) não transformar o histórico bairro em um conjunto de edifícios comerciais.

Porém, quando Max se vê obrigado a utilizar uma velha máquina de costura para consertar o sapato de um violento criminoso local, Leon (o rapper Cliff 'Method Man' Smith), o sapateiro percebe que ela é mágica: ao calçar os calçados passados pelo aparelho, ele assume a aparência de seu dono, voltando ao normal assim que os descalça.

A novidade dará nova vida a Max, que aproveitará ao máximo a mágica. Com o corpo de Leon, assaltará um desavisado para dirigir seu carro de luxo. Na pele de um senhor e uma transexual, dará calote num restaurante. Com as botas de um DJ (Dan Stevens), invadirá seu apartamento para assistir a namorada modelo do rapaz tomando banho (por pouco não abusa da moça).

Talvez o principal engodo da produção seja mesmo quando Max se passa por seu pai (Dustin Hoffman), que abandonou a família há cerca de duas décadas, para uma noite romântica com a mãe. Por mais sensíveis que sejam as intenções, o resultado é confuso e irreal, para além do fantástico no roteiro. Ela não se pergunta por que foi deixada? Não dá um beijo no marido?

Há, no fim, um chamado para o protagonista usar seus poderes para combater os vilões, mas as reviravoltas que isso acarreta não salvam o filme. Adam Sandler, em uma performance contida, não pode ser responsabilizado pela fraqueza da produção (mais um revés em sua recente filmografia), que sofre na sua origem, com um roteiro problemático, e na execução, na falta de ritmo.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb