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Comédia romântica "Deixa Rolar" esbalda-se nos clichês do gênero

Alysson Oliveira

Do Cineweb, em São Paulo

10/06/2015 17h14

Ainda que muito popular ou talvez por causa disso mesmo, a comédia romântica deve ser o gênero mais banalizado e esvaziado do cinema. Difícil entender como algo que rendeu clássicos que resistem ao tempo, como "Jejum de Amor" e "Levada da Breca", pôde resultar em produções sofríveis, como "Ele Não Está a Fim de Você" ou "Como Perder um Homem em 10 Dias"?

"Deixa Rolar", cujo título genérico é prova de sua banalidade, é mais um para do time de filmes padronizados e/ou desprovidos de charme.

Dirigido por Justin Reardon, em seus primeiros minutos, o filme tenta disfarçar e finge ser algo menos corriqueiro do que se revela. Começa com um narrador cujo nome nunca descobrimos interpretado por Chris Evans. Ele é um roteirista de cinema que deve escrever uma comédia romântica para um casal de "astros do momento" Ashley Tisdale e Matthew Morrison.

Depois de cumprir a tarefa, será contratado para escrever o roteiro de um filme de ação de alto orçamento que será rodado na Malásia e ele também vai ganhar uma viagem para o lugar, onde lhe prometem que vai poder ter várias mulheres lindas ao mesmo tempo, conforme garante o seu agente (Anthony Mackie). Esse é apenas um dos subtextos machistas do filme, no qual não existe sequer um diálogo entre duas mulheres.

Num daqueles surrados clichês do gênero, o protagonista nunca se apaixonou antes, recorda-se dos socos e pontapés que já levou na vida toda vez que disse a uma garota que não quer nada de mais sério com ela. Tudo porque, quando criança, foi abandonado pela mãe.

Como "pesquisa" para escrever o roteiro, começa a visitar eventos de caridade com seu melhor amigo, Scott (Topher Grace), dono de uma livraria e romântico incorrigível que espalha pela cidade exemplares de "O Amor nos Tempos do Cólera", de Gabriel García Márquez, porque "foi o livro que mudou a vida dele".

Num desses eventos, o roteirista conhece uma moça interpretada por Michelle Monaghan, cujo talento e presença de cena indicam que merecia fazer algo melhor, mas, enfim, todos temos contas a pagar.

Os dois se apaixonam, ele a perde, porque ela tem um namorado (Ioan Gruffudd) e vai se casar. Nada de novo sobre a terra nem sobre Hollywood. Basicamente não seria, a priori, um problema se o diretor e os roteiristas Chris Shafer e Paul Vicknair soubessem articular os clichês a favor do filme em outras palavras, se não se levassem tão a sério. A crítica ao gênero e a metalinguagem que aparecem discretas no começo da história desaparecem, dando lugar a mais do mesmo.

No filme, existe um grupo de escritores amigos do protagonista. São alguns homens e apenas uma mulher, que se reúnem para falar sobre a vida e o trabalho. A visão extremamente romantizada (entenda-se, descolada da realidade) que eles têm sobre o processo criativo e a produção cinematográfica ou editorial é só mais uma prova de quão revelador sobre o que Hollywood pensa sobre o amor também.

Assista ao trailer do filme

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb