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"Pixels" injeta ânimo na carreira de Adam Sandler com aventura cômica

Nayara Reynaud

Do Cineweb, em São Paulo

22/07/2015 15h59

Se Hollywood fosse um videogame, seria possível dizer que Adam Sandler tem perdido algumas vidas nos últimos anos. No seu auge, entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000, suas comédias eram não só garantia de arrecadação maior do que 100 milhões de dólares, mas de satisfação de grande parte do público, ainda que não da crítica.

E o comediante ousava participar em bons projetos independentes como "Embriagado de Amor" (2002), de Paul Thomas Anderson. Longe disso, ele agora amarga o título de ator menos rentável de Hollywood na lista da revista Forbes por dois anos consecutivos, como prova de que o interesse da audiência por seus trabalhos não tem acompanhado o seu alto cachê.

No entanto, parece que na sua mais recente jogada, Sandler ganhará uma sobrevida. "Pixels" (2015), aventura dirigida por Chris Columbus que estreia nesta quinta (23),  mistura de comédia e ficção científica a partir de uma premissa ao mesmo tempo boba e diferente. Provavelmente, conquistará boa parcela da plateia pela nostalgia e/ou pelo entretenimento.

O longa baseou-se em um inventivo curta homônimo de apenas dois minutos, criado pelo francês Patrick Jean em 2010 e ainda disponível no YouTube, que traz na animação apenas personagens e itens característicos dos clássicos videogames de 8-bits dos anos 1980 atacando Nova York.

O que dizer do Pac-Man, também conhecido aqui como Come-Come, engolindo as estações de metrô ou da referência com o Donkey Kong no topo do Empire State Building?

Os roteiristas Tim Herlihy —recorrente nas produções estreladas por Sandler— e Timothy Dowling, então, criaram uma história para conduzir esta invasão "pixealizada", em um script com desdobramentos previsíveis e alguns ganchos preguiçosos, especialmente ao forçar coincidências, como o fato de Sam Brenner (Adam Sandler) prestar serviço justamente na casa da tenente-coronel Violet Van Patten (Michelle Monaghan).

Na trama, a Nasa envia para o espaço, em 1982, uma cápsula do tempo com amostras da vida e da cultura na Terra, incluindo os jogos eletrônicos tão populares na época em que o garoto Sam (Anthony Ippolito) era o rei do fliperama do seu bairro, por pouco não vencendo o campeonato mundial.

Mal-interpretados pelos alienígenas, que consideraram os videogames uma ameaça dos terráqueos, eles constroem enormes criaturas e objetos em 8-bits à imagem e semelhança de Galaga, Centopeia, Space Invaders, Pac-Man, Donkey Kong, entre outros clássicos, para invadir o possível vizinho inimigo nos tempos atuais, transformando o planeta em cenário de um grande game, em que pessoas e construções se tornam pixels.

O presidente dos Estados Unidos e amigo de infância de Sam, Will Cooper (Kevin James), pede a ajuda do agora desenganado técnico em eletrônica Brenner para orientar o Exército no combate aos invasores.

Para isso, ele também conta com o auxílio do antigo colega Ludlow Lamonsoff (Josh Gad), garoto-prodígio obcecado por Lady Lisa (Ashley Benson) —personagem de um videogame criado especialmente para a superprodução— e teorias conspiratórias, de Violet e de um velho desafeto do protagonista: Eddie Plant (Peter Dinklage, bem distante do ambiente sombrio de "Game of Thrones") que o venceu e zombou dele naquela disputa em 82.

Adam Sandler nem surpreende nem compromete com as suas piadas típicas e, em um elenco correto, quem chama mais a atenção é Josh Gad com as obsessões de seu personagem, Peter Dinklage, junto com Andrew Bambridge na versão adolescente, no pouco espaço que lhe é dado.

Denis Akiyama, na pele do criador do Pac-Man, o professor Toru Iwatani, tem um dos melhores momentos do longa.

Com um bom trabalho gráfico, de efeitos visuais e 3D, "Pixels" também reanima a carreira de Chris Columbus: embora tenha fundamentado a franquia "Harry Potter" no cinema, dirigindo os dois primeiros —e mais fracos, por sinal— filmes da série, o cineasta não realizou obras tão inesquecíveis em quase duas décadas como fez no seu apogeu nos anos 80 e 90.

Ainda que longe do nível dos clássicos que dirigiu, a exemplo de "Uma Noite de Aventuras" (1987) e "Esqueceram de Mim" (1990), ou roteirizou, como "Gremlins" (1984) e "Os Goonies" (1985), Columbus consegue transcender o público-alvo óbvio de gamers nostálgicos e fazer de Pixels um entretenimento leve, com lições de moral pouco profundas sobre trapaça, aparência —nisso generalizando o termo nerd— e se transformar quando a vida foge do padrão, que provavelmente será atrativo para toda a família no cinema.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb