Godard abusa do 3D em seu primeiro longa no formato, "Adeus à Linguagem"
É preciso respeitar o nome e a bagagem de Jean-Luc Godard, do contrário, seu mais novo filme, "Adeus à Linguagem", que estreia nesta quinta (30), pode ser visto como um mero exercício de ego —como se seus filmes mais recentes estivessem um tanto longe disso.
Rodado e exibido exclusivamente em 3D, esse não é um longa muito recomendado para fracos, nem míopes ou astigmatas. Em suas experiências, o cineasta franco-suíço sobrepõe imagens, em níveis de profundidade diferentes (umas estão em terceira dimensão, outras não), entre outras coisas.
Esse é o segundo trabalho do diretor no formato. Dois anos atrás, ele participou de "3x3D", coletânea de um trio de curtas, dirigidos também por Peter Greenaway e Edgar Pêra.
Ninguém espera coerência narrativa num filme de Godard —especialmente os mais recentes—, mas a sinopse oficial relata algo como a relação entre uma mulher casada, um homem solteiro, e o cachorro que se torna mediador entre eles.
Na verdade, não é bem isso, mas poderia ser. Josette (Héloise Godet) e Gédéon (Kamel Abdeli) parecem viver uma relação conturbada —o verbo "parecer" é importante aqui, pois nada é muito certeiro no filme.
Eles conversam —muito, como é de praxe—, falam da vida e do mundo. A expressão verbal pode ser a chave de compreensão dessas pessoas, e também do filme. Mas Godard tem uma teoria —na verdade, várias, mas aqui uma sobressai: no vaso sanitário somos todos iguais. Não há rico ou pobre, homem ou mulher etc. Todos somos reduzidos a movimentos peristálticos.
Não é lá uma ideia muito original ou agradável, mas vamos dar crédito, Godard pode ter algo a dizer além disso. Em pouco menos de 70 minutos de cinecolagem levemente aleatória, experimenta-se uma viagem vertiginosa de signos, símbolos e significados.
"Adeus à Linguagem", em seu leve anacronismo verborrágico, tenta fazer desconstruções. O cineasta fala do amor em tempos de mercantilização de sentimentos e emoções de forma digital.
Fala também da utopia —um assunto recorrente em sua obra—, além das necessidades fisiológicas. Enfim, é um filme sobre tudo e sobre nada, na medida em que se esvazia em seu avanço.
Exibido em Cannes no ano passado, o filme ganhou o Prêmio do Júri, dividido com "Mommy", de Xavier Dolan, um fato que deixou a fanbase de Godard um tanto irritada.
Curiosamente, foi o primeiro troféu que o cineasta ganhou na história do festival —tendo competido outras seis vezes na seleção principal, a partir de "Salve-se Quem Puder" (1980).
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