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Com jeito de clipe, "Música, Amigos e Festa" traz Efron como DJ inciante

Nayara Reynaud

Do Cineweb, em São Paulo

14/10/2015 16h41

Muito se reclama dos títulos brasileiros que as distribuidoras atribuem as suas produções, mas, no caso de "Música, Amigos e Festa", que estreia nesta quinta (15), faz mais jus ao peso dos temas abordados pelo longa do que seu nome original "We Are Your Friends", traduzindo, "Nós Somos Seus Amigos", retirado de um remix do duo francês Justice do single da banda inglesa Simian.

Apesar da referência a um dos ícones da cena eletrônica contemporânea, para o público o título original remetia mais à amizade do grupo de jovens do Vale de São Fernando, na Califórnia. Só que justamente este elemento se perde no retrato da galera que só quer curtir e ganhar uma grana para farrear ainda mais, fazendo com que o resto do bando não gere empatia no público, com exceção do protagonista Cole Carter (Zac Efron).

Isso porque o outro eixo que o guia é a música, baseado no seu sonho de se tornar um DJ profissional de sucesso, que ganha forma na hora em que conhece uma espécie de guia e se inicia um triângulo amoroso, movimentando muito mais a história do filme.

Curiosamente, um gênero musical pouco explorado tematicamente no cinema o brasileiro "Paraísos Artificiais" (2012), de Marcos Prado, entra como uma exceção, a música eletrônica ganha destaque neste ano: antes, com "Eden", retrato cru de Mia Hansen-Løve sobre o início da cena garage, a house francesa dos anos 1990; agora com o versão cool de Max Joseph sobre a era dos DJ´s superstars, sob o prisma hollywoodiano.

A estreia na ficção do diretor, mais conhecido por ser o câmera e um dos apresentadores do reality show "Catfish?", da MTV, apresenta-se como um filme "coming-of-age? atrasado, pois é como se o personagem principal, de 23 anos, e seus amigos, o esquentado Dustin Mason (Jonny Weston), o aspirante a ator e traficante Ollie (Shiloh Fernandez) e o tímido Esquilo/ Squirrel (Alex Shaffer), postergassem de todas as formas esta etapa de crescimento. Com o objetivo de saírem do desesperançoso vale e atravessarem as montanhas rumo à promissora Los Angeles, eles investem na carreira de promoters de baladas, nas quais Cole abre a noite, como se isso fosse a solução para toda a vida.

No entanto, quando o jovem cai nas graças do famoso DJ James Reed (Wes Bentley), ele pode ter a chance no mundo da música que sempre desejara, se não acabar sucumbindo ao seu desejo, cada vez mais latente, pela assistente e namorada de seu mentor, a sensual Sophie (Emily Ratajkowski).

Além disso, os quatro tentam ganhar dinheiro na empresa de Paige Morrell (Jon Bernthal), que se aproveita das brechas do setor imobiliário em crise, em uma subtrama mal desenvolvida até o terceiro ato, quando um caso específico engatilha o momento de consciência moral e amadurecimento de Cole.

O roteiro de Joseph e Meaghan Oppenheimer, a partir do argumento de Richard Silverman, é um remix de clichês, numa mistura, bagunçada, mas sempre atraente, das já conhecidas tramas de triângulo amoroso, relação mestre-aprendiz e sucesso versus os amigos e sua origem. Falta também ao protagonista um desafio mais palpável.

Mesmo assim, a atuação nada exagerada de Zac Efron é honesta e o ator de "High School Musical" (2006) e "Vizinhos" (2014) tem o carisma necessário para suprir parte dessas lacunas. Wes Bentley, de "Beleza Americana" e "Jogos Vorazes", ganha merecido destaque, embora não convença muito como DJ e sim como um homem cujo sucesso não apagou certos traumas e sua falta de habilidade em determinados assuntos. A modelo e atriz iniciante inglesa Emily Ratajkowski, que apareceu em "Garota Exemplar" e "Entourage: Fama e Amizade", é a musa em disputa e não compromete.

Com apenas 33 anos e conversando diretamente com jovens na MTV há três, Max tem o background necessário para imprimir ao filme uma linguagem que se aproxime de seu público-alvo. Se não inova no texto, investe no apelo visual. A produção é uma mix daqueles vídeos virais no YouTube sobre as gerações X, Y, Z..., com making of da transmissão do Rock in Rio ou melhor neste caso, do "Tomorrowland" e toques de videoclipe.

"Música, Amigos e Festa" se propõe como uma fábula desta geração que foi ensinada que tudo lhe era possível, mas que sofre uma profunda angústia por essa liberdade e a oferta de oportunidades. Contudo, o próprio filme se sufoca em suas possibilidades e, ao final, a melhor lição, apesar de piegas, que pode dar ao seu autocentrado público-alvo e, consequentemente, a todos os outros espectadores desta época de surdez seletiva, é a de abrir seus ouvidos ao mundo ao seu redor.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb