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ESTREIA-"Straight Outta Compton" retrata criação do grupo de gangsta rap NWA

28/10/2015 16h21

SÃO PAULO (Reuters) - Há um momento em “Straight Outta Compton: A História do N.W.A.” em que um grupo de hip-hop desafia a polícia, e, em um show para milhares de pessoas, canta “F-ck tha Cops” – é uma das cenas mais poderosas do filme, não apenas pela apresentação vibrante, mas porque, até hoje, (infelizmente) os abusos do poder contra jovens afroamericanos persiste nos EUA (e não apenas lá).

O longa, um épico sobre uma cultura pouco conhecida, retrata os anos de 1990, mas é impossível não fazer a ponte entre o passado e o presente.

O mundo do hip-hop nunca mais foi o mesmo depois de 1988, quando o N.W.A.( Niggaz Wit’ Attitude) lançou seu primeiro álbum (que dá título ao longa), fazendo um retrato honesto pungente da vida dos jovens afroamericanos do sul de Los Angeles.

O gênero musical ganhou a força de canções de protesto – retratando o cotidiano e a opressão que enfrentava. Dirigido por F. Gary Gray (“Código de Conduta”), o filme segue alguns caminhos típicos das cinebiografias, mas, por contar com um material tão forte e pungente, consegue evitar muitos clichês.

No final dos anos de 1980, a Era Reagan, mesmo com a criminalidade em alta, a região de Comptom presenciou a ascensão de um tipo de música conhecida como “reality rap”, ao trazer para suas letras a realidade dos jovens de um estrato da sociedade, negligenciados pela indústria cultural.

Ice Cube (interpretado por seu filho, O'Shea Jackson Jr.), Dr Dre (Corey Hawkins), Eazy-E (Jason Mitchell), DJ Yella (Neil Brown Jr.), e MC Ren (Aldis Hodge) formam o grupo, e seu empresário é Jerry Heller (Paul Giamatti). Ao longo de quase três horas, acompanha-se uma narrativa épica sobre a ascensão (e a decadência de alguns membros) do grupo, e a forma como cada um lidou com a fama e o dinheiro.

Não há dúvida, Gary e os roteiristas (entre eles Jonathan Herman e Andrea Berloff), evitam assuntos mais polêmicos envolvendo os rapazes, como a misoginia das músicas e acusações de agressão contra mulheres – como é bem documentado na Internet. Tudo isso passa batido, e o único vilão aqui – capaz de agredir fisicamente pessoas – é o segurança Marion “Suge” Knight (R. Marcos Taylor), que mais tarde se tornaria empresário musical.

Ainda assim, “Straight Outta Compton: A História do N.W.A.” é capaz de apresentar a música como um foco de expressão específica de um determinado grupo e forma de resistência que encontraram contra seus opressores. Algo que pode, e deve, ressoar no presente.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb