Aos 75 anos, projecionista português teme ser o último do cinema itinerante
Traços do clássico ganhador do Oscar "Cinema Paradiso" permeiam a vida de Antônio Feliciano, um energético senhor de 75 anos, que teme ser o último projecionista do cinema itinerante em Portugal.
"Se não sou o último, estou perto disso", disse Feliciano. "Esse é um legado que vai acabar. Quando eu me for, o cinema itinerante será mencionado em artigos, mas apenas como uma memória", lamenta.
Depois de seis décadas viajando quatro milhões de quilômetros para exibir 4 mil filmes em aldeias distantes de Portugal, Feliciano ainda não tem planos de se aposentar. Mas está conformado com o fato de que os monopólios de Internet, TV e distribuição digital tornaram seu ofício obsoleto.
Como Totó, o menino que faz amizade com o projecionista Alfredo no filme italiano, sucesso em 1988, Feliciano também começou ainda jovem, na década de 1950, ajudando um projecionista itinerante a anunciar a programação do fim de semana em um alto-falante em sua aldeia na parte rural do Alentejo.
O negócio cresceu e já na adolescência ele pegou a estrada, ajudando a projetar filmes em salas de música e arenas de touradas. Isso o levou a uma carreira que até mesmo a necessidade de ganhar a vida como contador não interrompeu, pois ele combinou as semanas em um escritório de Lisboa com exibições de fim de semana.
A cerca de 200 quilômetros de Lisboa, a montanhosa Monforte é uma aldeia típica do Alentejo - pitoresca, mas sonolenta - com a população reduzida a 3 mil pessoas por causa de problemas econômicos e da migração.
Artemísio Pecas, filho do projetista, conta que "antes do filme, eles apresentavam o noticiário, e era no cinema que as pessoas viam Lisboa, as colônias, e mesmo o mar, pela primeira vez".
Em um domingo ensolarado, no entanto, a aldeia se anima quando Feliciano está para exibir um filme em homenagem a Domingos Pecas, um projetista local que morreu em 2005, depois de 50 anos na atividade.
"Nosso entretenimento era o cinema itinerante. Não tínhamos mais nada, nem TV, nem rádio. Éramos muito pobres", disse a moradora Nazaré Alfaia, de 71 anos. "Não sei ler, por isso não me lembro dos nomes dos filmes, mas eram aventuras, vaqueiros e cavalos", acrescentou, cercada por uma coleção de projetores antigos de Feliciano e cartazes desbotados de westerns e musicais.
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