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ESTREIA-Louis Garrel estreia na direção com delicada comédia romântica "Dois Amigos"

02/12/2015 16h37

SÃO PAULO (Reuters) - O ator Louis Garrel ("Saint Laurent", "Em Paris") estreia na direção de longas com "Dois Amigos", no qual faz um dos personagens do título. O outro, Vincent, é interpretado por Vincent Macaigne, um rapaz sem muito rumo na vida, que trabalha como figurante profissional de cinema e se apaixona por Mona Dessaint (Golshifteh Farahani), garçonete de um café na estação ferroviária Gare de l'Est, em Paris.

Vincent a cerca por todos os lados: assediando-a na rua e no trabalho, convidando-a para sair, e dando-lhe um passarinho de presente. Ela recusa, não pode sair, não pode ter um passarinho onde mora. Deprimido, ele se consola com seu melhor amigo, Abel (Garrel).

Mas não é porque não tem interesse no rapaz que Mona recusa suas investidas, ela simplesmente não pode: está cumprindo pena em um presídio, mas tem autorização para sair e trabalhar durante o dia.

Quando Vincent e Abel a impedem de pegar o trem de volta para "casa", ela se desespera, e é aí que sua vida muda. Uma noite fora do presídio, ela bem sabe, acarreta uma série de problemas, inclusive a revogação do direito de sair para trabalhar durante o dia. A vida dela se transforma.

Entre outras coisas, o trio participa como figurantes de um filme sobre Maio de 68 – o que pode soar como uma trívia, afinal Garrel já protagonizou dois filmes sobre o assunto ("Os Sonhadores", "Os Amantes Constantes"), ou também como um aceno para a discreta dimensão política presente em "Dois Amigos".

Num momento conturbado na Europa, não deixa de ser uma espécie de manifesto colocar como protagonista uma atriz iraniana que foi banida em seu país e que aparece nua logo na primeira cena.

Ela é uma mulher estrangeira presa por um crime que nunca fica claro, que tem de conviver com dois homens europeus infantilizados e incapazes de lidar com rejeição. Em sua estreia na direção de longas, Garrel parece conseguir sintetizar um momento de tensão em seu país.

Com roteiro escrito por ele e Christophe Honoré ("As Bem Amadas"), a partir de uma peça do século 19 de Alfred de Musset, "Dois Amigos" faz referência tanto a "Jules e Jim – Uma Mulher Para Dois" quanto aos filmes de Arnaud Desplechin (especialmente no uso da música, que vai de uma cena a outra sem mudar seu tom, mesmo que o tom da ação seja diferente) ao criar uma continuidade, o que só faz ressaltar a espontaneidade de seus personagens e de seu comportamento.

Embora a paixão de Vincent seja o que impulsiona a ação, é o bromance entre os dois rapazes que está no centro aqui: como agir quando você acredita estar apaixonado pela mesma mulher a quem seu melhor amigo está cortejando há tempos? Às vezes, Abel age como um cavalheiro, às vezes não. E o mesmo acontece com Vincent, que faz um movimento de se aproximar e afastar do amigo.

Com um filme sutil e delicado – que transita da questão da paixão pessoal ao problema político da estrangeira presa na França –, Garrel faz uma estreia segura na direção, que destaca a melancolia de seus personagens e consegue evitar os surrados clichês que perseguem filmes com triângulos amorosos.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb