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ESTREIA-"Labirinto de Mentiras" expõe início das revelações sobre Auschwitz

16/12/2015 16h50

SÃO PAULO (Reuters) - Representante da Alemanha na corrida por uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro, o drama “Labirinto de Mentiras”, estreia do diretor Giulio Ricciarelli, parte de histórias reais para reconstituir os bastidores de uma grande investigação, nos anos 1960, em Frankfurt, que levou a julgamento alguns dos responsáveis pelas atrocidades no campo de concentração de Auschwitz.

Em 1958, um jovem promotor, Johann Radmann (Alexander Fehling, de “Bastardos Inglórios”), começa sua carreira lidando com banais casos de trânsito. Por mero acaso, atravessa sua vida o jornalista Thomas Gnielka (André Szymanski), que procura interessar a justiça de Frankfurt em processar um ex-guarda de Auschwitz que foi reconhecido por um seu amigo, trabalhando numa escola primária.

Treze anos após o final da 2ª Guerra, ao contrário de hoje, pouco se sabia sobre o que realmente havia ocorrido nos campos de concentração. Na Alemanha Ocidental, vivia-se um processo de “desnazificação”, estimulado pelos poderes anglo-americanos no comando, o que teve como efeito colateral um agudo processo de esquecimento. Os únicos a saberem o que realmente se passou eram as vítimas dos campos, como o artista Simon Kirsch (Johannes Krisch), o amigo do jornalista que reconhecera seu algoz na escola.

Apesar do pouco estímulo que encontra no ambiente judicial – todos os seus colegas mais experientes o desaconselham -, Radmann envolve-se numa investigação, ainda incipiente, que começa a tomar corpo a partir da denúncia do jornalista. Logo batem à porta do promotor inúmeras outras vítimas, desejosas de denunciar as barbaridades que sofreram ou testemunharam.

Radmann encontra um aliado poderoso em seu superior, o procurador-geral Fritz Bauer (Gert Voss) – ele mesmo um judeu que experienciou na pele a perseguição dos nazistas. Mas, à volta deles, não há muitos dispostos a cooperar. Outros membros da corte judicial e mesmo dos arquivos procuram mais colocar obstáculos do que oferecer alguma informação. Muitos não deixam de expressar seu franco descontentamento com o inquérito, que tem como seus alvos mais famosos figuras como Josef Mengele e Adolf Eichmann, ambos na época escondidos na Argentina.

Se é verdade que o filme tem um andamento um tanto didático, ao mesmo tempo revela qualidades na maneira clara como expõe o funcionamento das estruturas de poder da Alemanha na época e os efeitos nocivos da Guerra Fria – que leva mesmo militares norte-americanos, que comandam arquivos importantes, a resistirem a ajudar o promotor.

A luta heroica do jovem Radmann, que amadurece no processo, tanto pessoal como profissionalmente, também põe em evidência uma discussão eterna em países em conflito com seus passados pouco edificantes – seja a Alemanha diante do nazismo, sejam os países latino-americanos, ainda às voltas com o esclarecimento dos crimes de suas ditaduras militares, como é o caso do Brasil.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb