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12/02/2009 - 12h59

"O Lutador", com o premiado Mickey Rourke, é emotivo sem ser piegas

SÃO PAULO - O Festival de Veneza é palco de grandes lembranças para o diretor Darren Aronofsky, como as vaias que teve de ouvir, em 2006, contra seu filme "A Fonte da Vida", que levou muitos críticos a imaginarem que seu talento, revelado em "Pi" (1998) e "Réquiem para um Sonho" (2000), havia se esgotado.

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Mickey Rourke, que já havia ensaiado um retorno ao estrelato com "Sin City", agora retoma a carreira
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Na edição de 2008 do mesmo festival, Aronofsky recuperou-se desse desastre com a consagração de "O Lutador", que não só arrancou aplausos desde sua primeira sessão como venceu o Leão de Ouro. Outra fênix que renasceu brilhantemente das cinzas com esse filme poderoso foi seu protagonista, Mickey Rourke.

Na pele de Randy "the Ram" Robinson, brilha um Mickey Rourke quase irreconhecível. Fisicamente destruído, aparentando mais do que os seus 56 anos, com longos e desgrenhados cabelos louros, em nada lembra o galã do hit sensual "Nove e Meia Semanas de Amor" (1986) e o jovem ator promissor de "O Selvagem da Motocicleta" (1983).

Tudo isso, que em princípio seria uma desvantagem, serve à perfeição ao seu personagem, um lutador de luta livre envelhecido, doente e com carreira e vida pessoal em queda livre. É a volta por cima de Rourke, também, que há anos não conseguia tal chance como ator, apesar de ocasionais bons momentos, como a participação em "Sin City" (2005).

A tragédia do perdedor de coração sincero de "O Lutador" vem conquistando, como seria de se esperar, prêmios e indicações. Rourke, que já venceu um Globo de Ouro, um Bafta da Academia Britânica e vários prêmios de associações de críticos, como as de Chicago, São Francisco, Boston, Kansas City e Flórida, ainda concorre ao Oscar de melhor ator no próximo dia 22.

O filme tem uma segunda indicação para Marisa Tomei, que pode ganhar sua segunda estatueta como atriz coadjuvante, somando-se àquela que venceu em 1992 com a comédia "Meu Primo Vinny".

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Voltando à sua forma plena como diretor, Aronofsky extrai o melhor de um roteiro simples e intenso, escrito por Robert S. Siegel. Randy Robinson, conhecido nos ringues como "The Ram", vive os últimos tempos da carreira de lutador de luta livre. Seu coração está falhando e o corpo, cansado. Ele precisa encontrar outra profissão. Mas ele não se encaixa em nenhuma outra.

Em sua vida emocional, enfrenta outros dilemas. Há muitos anos ele perdeu contato com a única filha, Stephanie (Evan Rachel Wood), hoje universitária. A ausência do pai causou rancores no coração da moça e parece difícil reverter isso agora. Mas Randy está disposto a tentar.

A vida afetiva de Randy, que declinou na mesma medida de seus sucessos no ringue, agora está reduzida a um relacionamento platônico com uma stripper, Cassidy (Marisa Tomei). Ela tem um filho e sente um medo enorme de novas decepções amorosas. Como Stephanie, ela também não parece disposta a dar uma chance a Randy.

Um acerto do filme é mostrar em detalhes o ambiente dessas lutas livres arranjadas, como os ginásios e as competições de segunda linha, seus competidores decadentes, gastando-se até a última gota de sangue e suor - porque as quedas e pancadas, muitas vezes usando cadeiras e barras de ferro, por mais encenadas que sejam, cobram, afinal, o seu preço dos músculos, dentes e ossos.

Observando os bastidores, descobre-se o lado melancólico desse mundo, planejado como um show cômico, mas que extrai a energia vital de seus "artistas". Alguns, como Randy, podem não sobreviver à próxima luta. Mas, sem essa atividade, como pagar as contas?

A história ganha uma assustadora e dolorosa verossimilhança a partir da própria aparência de Rourke - que lutou boxe e tomou esteroides na vida real.

Em seu agradecimento ao diretor, que o colocou novamente no centro do grande jogo do cinema mundial, em Veneza, Rourke, aliás, não podia ter sido mais sincero: "Joguei minha carreira para o alto há 15 anos e não a retomei até há muito pouco tempo. É muito duro esse sentimento de não ter realizado nada na vida e não ter ninguém mais a quem culpar além de você mesmo, como acontece com Ram, que é um caos completo."

A Academia de Hollywood adora este tipo de história, embora Darren Aronofsky, a bem da verdade, economize no tom. "O Lutador" não é piegas, nem mesmo sentimental, apenas emotivo.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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