O Homem das Novidades (1928)

Sérgio Alpendre

Da redação 13/11/2009

Nota 5

É bem evidente a influência do genial comediante do cinema silencioso Buster Keaton para o tipo de composição dos personagens criados por Jerry Lewis. Ambos vivem personas que dominam as cenas, e estão quase sempre tentando se movimentar em um mundo hostil a eles em todos os aspectos.

Tomemos, por exemplo, uma cena de ''O Homem das Novidades'' (dirigido por Edward Sedwig e Keaton, que nos créditos aparece apenas como ator e produtor). O ''Cameraman'' tenta comprar um salgado para sua amada, Marceline Day. Sofre diversos esbarrões, deixando cair mais de uma vez as inúmeras moedas que carregava na mão. As pessoas simplesmente pisam nas moedas (e se ele não tomar cuidado, pisam em sua mão), andam como se ele não estivesse ocupando um espaço ali (daí os esbarrões), parecem inimigos em um campo invisível de uma batalha da rotina diária.

Keaton, em 1928, já constatava o crescimento vertiginoso das grandes cidades em detrimento aos aspectos humanos, que seriam rapidamente substituídos por uma produtividade que mais tem a ver com uma máquina. É assim no escritório da MGM, aonde vai perseguindo sua amada, e aproveita para pedir um emprego. É assim na dura vida profissional, na qual um futuro colega de trabalho se aproveita de uma situação para se dar bem com a gatinha e com o chefe.

Mas eu falava da semelhança com Jerry Lewis. Neste filme, mais do que nunca, é possível identificar precisamente essa filiação, em outras duas cenas, que teriam relação com uma das maiores obras de Lewis, ''O Terror das Mulheres'', no qual ele acumula função de ator e diretor (como Keaton, só que creditado). Primeiro quando Keaton aguarda o telefonema de Day, e as descidas de escada da pensão onde mora são acompanhadas por uma câmera que desce revelando o cenário, assim como Lewis revelaria, anos depois, o cenário rebuscado que utilizou em seu filme. Mais tarde, na pensão onde Day mora, onde só mulheres habitam, Keaton é mais do que nunca um elemento estranho, alguém que não tem o menor controle da situação, como o Herbert Heebert, o personagem de Lewis.

Se ''O Homem das Novidades'' está um pequeno degrau abaixo das maiores obras de Keaton (A General, Go West, Nossa Hospitalidade), ainda assim é um humor tão sofisticado e inteligente que só Jerry Lewis - e Jacques Tati nos melhores momentos - conseguiu igualar.