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Ficha completa do filme

Comédia,Romance

Não Somos Anjos (1955)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 18/03/2011
Nota 5
Não Somos Anjos

Quando passou nos cinemas brasileiros, este filme pouco comentado de Michael Curtiz, diretor de filmes ótimos, mas lembrado quase que exclusivamente por "Casablanca", foi intitulado "Veneno de Cobra", e com esse nome alegrou os espectadores da sessão da tarde muitos anos depois.

Rebatizado de "Não Somos Anjos", mesmo nome da refilmagem feita há cerca de vinte anos por Neil Jordan (que mudou diversos acontecimentos e removeu as sutilezas da trama), é relançado agora em DVD com sobrecapa e foto especial para colecionadores.

O que mais surpreende no engenhoso roteiro de Ranald MacDougall, baseado em uma peça de Albert Husson (estreada em Paris no mesmo ano do filme, 1955), é a riqueza com que os personagens, e a relação entre eles, se desenvolvem.

Temos três prisioneiros fugitivos que começam a trabalhar no telhado de uma família de honestos comerciantes. Temos também a confiança dessa família, que os trata como se eles fossem velhos conhecidos, mesmo sabendo que dois deles são assassinos, e o outro aplicou um grande golpe financeiro.

Além disso, vemos que esses três criminosos acabam se envolvendo com os dramas de cada um dessa família: com a paixão da filha de 18 anos por um interesseiro que não quer saber dela e só se interessa pela grana do tio; com o pai que está em apuros porque não consegue fazer a loja dar lucros para o primo (que aliás é o tio do jovem interesseiro); com a senhora que tenta administrar os problemas da família com sua sobriedade.

Inicialmente, os criminosos são espectadores, como nós, que assistem interessados ao desenrolar das angústias dos três habitantes da casa. Depois, inevitavelmente, se envolvem com eles, e o que a princípio seria um roubo que os ajudaria na fuga se transforma em outra coisa muito mais profunda e tocante: uma verdadeira relação de amor, respeito e amizade.

Não temos como deixar de mencionar a excelência dos atores que fazem os criminosos, Humphrey Bogart, Aldo Ray e Peter Ustinov. Cada um engrandece seu personagem de uma maneira específica, como se fossem os 3 Patetas ou os irmãos Marx. Bogart é Moe/Grouxo; Ray é Larry/Chico; Ustinov é Curly/Harpo. Descontadas algumas particularidades, a relação é bem sensível para ser ignorada.

Os outros atores desse elenco formidável também interpretam com uma maestria impagável, desde o asqueroso e pernóstico personagem de Basil Rathbone até o comerciante fraco e honesto vivido por Leo G.Carrol, passando pelas mulheres da casa, Joan Bennet (a mãe) e Gloria Talbott (a filha).

Michael Curtiz, esse artesão subestimado, orquestra todos os elementos dessa história com sua costumeira habilidade.

"Não Somos Anjos", afinal, nos lembra que essa arte se faz de esforços coletivos, e necessita de um bom maestro, um cineasta de verdade. Eis mais uma prova eloquente (outras são "O Egípcio", "Capitão Blood" e "Almas em Suplício") de que Curtiz pode assim ser considerado.

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