UOL Entretenimento Cinema
 

Ficha completa do filme

Drama,Suspense

Um Condenado à Morte Escapou (1956)

Resenha por Edilson Saçashima

Edilson Saçashima

Da redação 07/01/2011
Nota 5
Um Condenado à Morte Escapou

O cineasta Robert Bresson costuma resumir o cinema como ''movimento interior''. Um bom exemplo é ''Um Condenado a Morte Escapou'', clássico do diretor francês lançado em DVD pela Lume Filmes.

O título dá margem a poucas dúvidas. O protagonista Fontaine (François Leternie), um combatente da Resistência francesa preso pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, irá escapar da morte. Frustrar a expectativa do público, que talvez esperasse um suspense sobre o destino do protagonista, é uma estratégia bressoniana para que se volte o olhar para outro lugar.

No início do filme, Fontaine foge do carro no qual era conduzido à prisão. A cena é um convite para a ação. O veículo desacelera, Fontaine escapa do carro, os alemães o perseguem, ouvimos gritos e correria. No entanto, Bresson não nos mostra nada disso. Sua câmera mantém focada no banco vazio do automóvel onde estava o preso. Essa cena já insinua a opção de Bresson para prestarmos atenção para a movimentação no filme, que não é física, mas moral.

O que está em jogo não é escapar do fuzilamento ou dos muros da prisão. Eles são apenas artifícios visuais para que possamos enxergar o invisível. A total desdramatização, com a ''não interpretação'' dos atores, é parte dessa estratégia bressoniana. Ao apagar a atuação, Bresson tira o foco do artifício para que se possa enxergar essência.

No caso de ''Um Condenado'', a essência é a obstinação de Fontaine em fugir de um lugar que representa um vazio existencial. Os prisioneiros bressonianos estão condenados a uma vida vazia, o que pode ser comparado a uma morte espiritual. A única atividade que realizam é esvaziar o urinol em uma fossa.

Fontaine, ao contrário dos demais prisioneiros, está obstinado pela fuga desse ambiente. Não à toa, seu nome significa fonte em francês. É durante a lavagem (uma imagem de poderosa simbologia religiosa) que o protagonista vai ''contaminando'' os demais prisioneiros com seu desejo de fuga. Espaço retratado como um ambiente de higienização, com as constantes imagens de limpeza de urinol e de lavagem de corpos, a prisão bressoniana tem um papel purificador na vida dos presos

Para Bresson, o presídio é um espaço de purificação do personagem, não no sentido de libertação de seus males, mas de desenvolvimento do desejo de viver. Àqueles que não conseguem atingir este objetivo, só resta a morte.

Bresson recebeu o prêmio de direção por este filme no Festival de Cannes de 1957. Nem todos os analistas apontam o filme como o melhor da carreira de Bresson, que tem no currículo títulos como ''Pickpocket'' e ''O Processo de Joana D'arc'', mas o crítico e cineasta François Truffaut elegeu ''Um Condenado'' como o melhor filme francês produzido entre 1946 e 1956. Vale lembrar que neste período a França contava com cineastas como Jean Renoir, Max Ophüls, Jean Cocteau, Jaques Tati, René Clair, entre outros.

Compartilhe:

    Siga UOL Cinema

    Sites e Revistas

    Arquivo