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Ficha completa do filme

Romance

Eva (1962)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 20/10/2009
Nota 5
Eva

A Lume tem feito um trabalho notável lançando filmes do ainda subestimado Joseph Losey. Primeiro lançou "À Sombra da Forca" (Time Without Pity, 1957), e agora este fulgurante "Eva" (1962), filme superior a suas obras mais famosas, "O Criado" (The Servant, 1963) e "Estranho Acidente" (Accident, 1967).

Ao contrário do que muita gente pensa, Losey não é inglês. É norte americano. Saiu dos Estados Unidos por causa do macarthismo, após ter feito cinco filmes, entre os quais a obra-prima M (1950), refilmagem do clássico de Fritz Lang. Continuou sua carreira na Europa, primeiro na Itália, depois se firmando na Inglaterra, onde recebeu um importante empurrão de Dirk Bogarde, astro em ascendência, realizando "The Sleeping Tiger", em 1954.

Seu estilo, no entanto, estaria longe de se adaptar ao cinema inglês, o que só viria a acontecer com "Encontro com a Morte" ("Blind Date"), em 1959. Após esse filme sensacional, o melhor que realizou, dirigiu "Armadilha a Sangue Frio" ("The Criminal", 1960), "Eva" e "Os Malditos" (The Damned, 1963), antes de embarcar na parceria com Harold Pinter e ter, por isso, um reconhecimento tardio com O Criado.

Filmado em Veneza, e adaptado de um livro de James Hadley Chase, com a presença inesquecível de Jeanne Moreau, "Eva" tem um ar bem mais europeu que seus trabalhos passados. Stanley Baker, o policial taciturno de "Blind Date", é o escritor picareta que negligencia a esposa para ir atrás de uma mulher que o humilha (Moreau). Basicamente a história é essa. Não há mais o que dizer, a não ser destacar a direção impressionante de Losey, com a câmera perseguindo os atores, à maneira de Mizoguchi, e sua habilidade incrível para criar momentos de enorme exuberância visual. Um belo exemplo disso é a cena do cortejo fúnebre pelos canais de Veneza. O comportamento da câmera nessa cena merece um livro, de tão refinado e funcional. A distância entre a lente e os objetos filmados é perfeita. Sentimos todo o peso do momento sem que fique perceptível qualquer arrojamento de seu estilo.

Talvez a grande marca de Losey seja essa. Mesmo quando cai no barroco, exibe uma destreza de movimentos e de uso do espaço cênico que é essencialmente clássica. Seu cinema é de essência, de emoções captadas em sua integridade. É por isso que não faz muito sentido considerá-lo como parte do cinema inglês. Losey é apátrida. Um homem que soube mergulhar na decadência burguesa quando precisou. A partir de Eva, fez desse mergulho a razão de seu cinema.

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