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Ficha completa do filme

Comédia

Lua de Papel (1973)

Resenha por Márcio Ferrari

Márcio Ferrari

Da redação 01/01/2003
Nota 4
Lua de Papel

Em sua estreia como diretor, o thriller "Na Mira da Morte" (1968), Peter Bogdanovich fazia também um pequeno papel, obviamente autobiográfico, e dizia uma famosa frase: "Todos os bons filmes já foram feitos." Contrariando a própria tese, Bogdanovich realizou depois de "Na Mira da Morte", que já era muito bom, um drama melhor ainda, "A Última Sessão de Cinema" (1971), e uma comédia de primeira, "Essa Garota É uma Parada" (1972). "Lua de Papel" não fez feio na sequência, mas foi o último título notável do diretor (com a relativa exceção de "Marcas do Destino", de 1985), ainda ativo hoje, aos 71 anos.

Crítico, historiador e devorador de filmes desde muito jovem, Bogdanovich foi, entre os colegas de uma geração brilhante (Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Steven Spielberg etc.), o mais reverente à tradição do cinema americano. "Essa Garota É uma Parada", por exemplo, devia tudo à comédia "screwball" dos anos 1930 (na verdade era uma refilmagem sem crédito de "Levada da Breca", de Howard Hawks).

"Lua de Papel", rodado em preto e branco, é igualmente nostálgico, mas não segue modelo nenhum. Tem um andamento pausado, com planos longos e abertos, lembrando Jonh Ford, que não fez muitas comédias. O humor só vai ganhando força conforme a história avança; nada a ver com a atual urgência do cinema americano em pegar o espectador pelo pescoço nas primeiras cenas. Não que "Lua de Papel" seja uma comédia intelectual ou algo assim. Nos extras do DVD, o diretor de fotografia, Laszlo Kovacs, define bem sua simplicidade: "Comovente, mas não sentimental; engraçada, mas não pastelão."

A história se passa em 1935, durante a Grande Depressão. Um golpista disfarçado de vendedor de Bíblias, Moses Pray (Ryan O'Neal), de repente se vê responsável pelo destino de uma menina de 9 anos, Addie (Tatum O'Neal, filha de Ryan), que pode ou não ser sua filha com uma prostituta recém-falecida. Antes de conseguir se livrar dela, entregando para uma tia, Moses descobre que está diante de uma parceira de golpes às vezes mais esperta do que ele. No ponto alto do filme, o próprio Moses será alvo de uma tramoia que a menina arma para afastá-lo da nova namorada, uma dançarina de parque de diversões atraída pela renda da vigarice (Madeline Kahn).

"Lua de Papel" parece realmente ter sido feito na época em que acontece a história: segundo o diretor, é um filme que não envelhece porque já nasceu envelhecido.

Uma coleção de preciosas canções dos anos 1930 toca do início ao fim, com som de gramofone. Os atores se preocupam em divertir, não em parecer "reais". O título "Lua de Papel" vem de uma canção que fala justamente de ilusão e cenários mambembes.

Mais "figura" do que boa atriz, a estreante Tatum O'Neal levou o Oscar de melhor atriz coadjuvante e até hoje é a mais jovem ganhadora de uma estatueta em competição. Madeline Kahn concorreu na mesma categoria, e o filme foi indicado ainda para melhor roteiro adaptado e melhor som. Incrivelmente, não houve indicação para a fotografia. No ótimo documentário que acompanha o DVD, revela-se que o segredo da beleza das imagens se deve em parte a uma recomendação de Orson Welles: o uso de filtro vermelho para realçar o contraste do preto e branco.

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