UOL Entretenimento Cinema
 

Ficha completa do filme

Ação

Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (1974)

Resenha por Márcio Ferrari

Márcio Ferrari

Da redação 24/09/2010
Nota 5

Um dos aspectos interessantes de ver "Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia" atualmente é perceber como sua influência chega a ser palpável em vários filmes recentes: "Onde os Fracos Não Têm Vez", dos irmãos Coen, "Os Três Enterros de Melquíades Estrada", de Tommy Lee Jones, vários dos títulos de Quentin Tarantino e Roberto Rodriguez e, pela franqueza autobiográfica, os de Abel Ferrara. Para um diretor tão influente, é surpreendentemente pequena a oferta em DVD de filmes de Sam Peckinpah (1925-1984), situação que a distribuidora Lume ameniza com o lançamento de "Alfredo Garcia", "Pat Garrett e Billy the Kid" e "Assassinos de Elite".

Segundo Peckinpah, "Alfredo Garcia" foi o único filme de sua carreira que ele pôde controlar do início ao fim, incluindo a fase de montagem. Foi planejado para que fosse assim, depois que os produtores interferiram pesadamente no resultado final de "Pat Garrett e Billy the Kid". Para evitar que isso se repetisse, Peckinpah fugiu do esquema de produção americano e foi filmar e finalizar "Alfredo Garcia" no México, país que ele amava. Notoriamente irascível e beberrão, Peckinpah pôde desfrutar pela única vez de um ambiente de filmagem relativamente pacífico, com uma equipe e um elenco de amigos.

Alfredo Garcia é o homem que engravidou a filha de um poderoso e brutal latifundiário (Emilio Fernandez). O chefão promete uma recompensa de 1 milhão de dólares a quem lhe trouxer sua cabeça. Na busca, dois capangas chegam a um pianista e garçom de bar, Bennie (Warren Oates, brilhante), que conhece e detesta Garcia, por disputar com ele o amor de uma prostituta, Elita (Isela Vega, idem). Mas, ao conversar com ela, descobre que Garcia já está morto. Elita é então convencida, com muita hesitação, a acompanhá-lo até o cemitério e profanar o túmulo para retirar a cabeça. Acontece que muita gente está nos calcanhares do casal.

A alta voltagem trágica, com as devidas e ousadas incursões às fronteiras do patético e do humor negro, é o que torna "Traga-me a Cabeça de Alfredo Garcia" tão grandioso. Peckinpah se inspirou abertamente em "O Tesouro de Sierra Madre" (1948), a ponto de dar a um dos personagens o mesmo nome do protagonista do filme de John Huston, para contar uma história em que a ambição leva à loucura.

Bennie é um personagem que pretende estar aproveitando a última chance de se dar bem na vida, mas no fundo sabe que não nasceu para se dar bem. Encharcado de álcool durante toda a história, ele é, nos aspectos externos, uma réplica de Peckinpah (uma das curiosidades mais repetidas sobre o filme é que o ator Warren Oates pegou emprestado os indefectíveis óculos escuros do diretor para usar em algumas cenas).

Colecionador de apelidos como "poeta da violência" e "Sam sangrento" desde que lançou o clássico "Meu Ódio Será Sua Herança" (The Wild Bunch, 1969), Peckinpah é conhecido, entre outras marcas de estilo, por filmar as cenas de ação de vários ângulos e pelo uso da câmera lenta. Em "Alfredo Garcia" esses recursos aparecem relativamente pouco. Toda a encenação é muito precisa, quase geométrica.

O filme tem uma incomum quantidade (para o diretor) de sequências de intimidade e afeição entre Bennie e Elita, cuja relação é marcada por uma tristeza que os próprios personagens parecem não compreender. Tanto nesses momentos quanto nos de extrema violência, a postura é de visão frontal, sem medo do desagradável ou da grosseria.

Talvez por isso, "Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia", com palavrões e cenas de nudez em grande número para os padrões da época, tenha sido recebido a pedradas pela crítica quando foi lançado. O filme foi ganhando prestígio com o tempo e hoje desfruta da admiração que merece.

Compartilhe:

    Siga UOL Cinema

    Sites e Revistas

    Arquivo