O Beijo da Mulher Aranha (1985)

Márcio Ferrari

Da redação 26/02/2010

Nota 1

O romance do argentino Manuel Puig que deu origem ao filme "O Beijo da Mulher Aranha" já havia se tornado antes uma peça de teatro, num desdobramento até natural para um enredo sustentado basicamente no diálogo de dois prisioneiros numa cela em algum lugar da América do Sul.

Esses personagens são Luis Molina (William Hurt), homossexual preso por manter relações com um menor, e Valentin Arregui (Raul Julia), torturado e condenado por suas atividades num grupo revolucionário.

Logo de início se anuncia um embate caricatural entre a futilidade do primeiro e o sectarismo do segundo, e é mais ou menos assim que o filme segue em frente, mostrando o processo de entendimento entre os dois homens, que termina em respeito e afeição. Babenco mantém seu hábito de pausas e tempos lentos, vencendo heroicamente o risco de falatório.

As cenas na prisão são intercaladas com as dos filmes que Molina conta a Arregui, entre eles um que tem como protagonista a tal mulher-aranha (Sonia Braga). Esses trechos são filmados em preto e branco, com o máximo de estilização e canastrice proposital, o que surte algum efeito cômico.

Já as cenas na cela têm um colorido sombreado e lúgubre, talvez procurando um contraste. Mas o artificialismo permanece, apenas um pouco diferente: o filme é um show de técnica de William Hurt, que ganhou o Oscar e um prêmio em Cannes pela interpretação. Seus movimentos são coreografados minuciosamente, ele ocupa o centro da tela, tem um espaço imenso para demonstrar suas notáveis habilidades, inclusive a de entrar e sair do papel à vontade. Hurt é o único que não tem sotaque num filme falado inteiramente em inglês (embora todos os personagens e a maioria dos atores sejam latino-americanos). Tudo o distingue de seu entorno, o que contribui para o tom hiperbólico do filme, típico de sua época.