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Ficha completa do filme

Drama

Paisagem na Neblina (1988)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 26/03/2010
Nota 5
Paisagem na Neblina

O cineasta grego Theo Angelopoulos despontou para o público do cinema de arte com este filme belíssimo sobre duas crianças que embarcam em uma viagem à procura do pai.

Num ritmo lento, com clara influência de Andrei Tarkovski (que Angelopoulos nega), muitos planos-sequências e atuações por vezes hipnóticas dos atores, ''Paisagem na Neblina'' (1988) constrói uma rede de alegorias sustentadas principalmente pelo branco (a neve, as estátuas, o vestido da noiva), nem sempre compreensíveis, mas sempre instigantes.

É o terceiro filme centrado em personagens do diretor, após ''Viagem a Citera'' (1984) e ''O Apicultor'' (1986). O diretor era mais conhecido por seus dramas históricos, que passavam a limpo a História da Grécia, caso de ''A Viagem dos Comediantes'' (1975) e ''Megalexandros'' (1980), os dois melhores dessa fase inicial. Ainda que o segundo seja sobre Alexandre, o Grande, o tema é a Grécia, num longo painel memorialista e político.

''Paisagem na Neblina'', apesar de toda sua beleza, produziu um efeito colateral na carreira do diretor: a partir dele, Angelopoulos começou a acreditar que era o maior gênio do cinema, a ponto de espernear quando seu ''Um Olhar a Cada Dia'' (1995) não venceu a Palma de Ouro em Cannes. O fato é que nesse filme derrotado no mais artístico dos festivais, já ficava clara a limitação de seu estilo, incapaz de renovação ou mesmo de promover questionamentos sobre sua arte. Era um filme à prova de crítica, e isso não faz nada bem ao cinema.

Mas voltemos a ''Paisagem na Neblina'', obra que ainda respira um frescor referencial de história do cinema e história da Grécia, e, por que não dizer?, da civilização ocidental. O que mais impressiona no filme, mais até do que a habilidade estética, é a delicadeza com que Angelopoulos lida com questões como pedofilia, estupro, homossexualidade, morte, violência e intolerância.

Em uma cena emblemática, uma mão gigantesca, parte de uma estátua, é retirada das águas, mas tem o dedo indicador ausente, como se houvesse uma recusa em indicar o caminho. A partir daí, fica claro que os meninos estão ao léu, solitários perseguidores de uma verdade que não está ao alcance deles.

Muitos consideram que a procura é o grande assunto das artes dramáticas. Se assim for, ''Paisagem na Neblina'' é mais um brilhante esforço para elucidar esse tema tão caro aos gregos e aos demiurgos.

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