Tyson - O Mito (1995)

Maurício Dehò

Da redação 06/05/2009

Nota 1

A história de Mike Tyson, seu rumo ao estrelato e o posterior declínio formaram uma das carreiras mais marcantes do boxe. Só por ser conhecido como o "Homem mais malvado do planeta", já fica claro que o ex-campeão dos pesos pesados teve ? e ainda tem ? uma vida digna de um filme de Hollywood.

Aproveitando-se disso e da época em que o norte-americano estava em alta, a HBO lançou uma biografia do lutador, intitulada apenas "Tyson", veiculada à época somente na televisão. O lançamento, de 1995, chegou recentemente no formato de DVD ao Brasil, com o nome "Tyson ? O Mito".

Até pelo longo tempo que já se passou entre o lançamento e a chegada aos DVDs, a história acaba datada para os dias de hoje. Baseada no livro biográfico "Fire and Fear: The Inside Story of Mike Tyson", de José Torres, compreende desde a infância de Tyson, chegando ao seu primeiro tropeço na carreira, a derrota para James Buster Douglas, em 1990.

O grande problema por trás dos 109 minutos de filme fica pela pouca profundidade passada ao espectador, principalmente quem conhece pelo menos levemente o fenômeno que foi Mike Tyson. Seus dramas juvenis, como as citadas 38 detenções que teve apenas até os 13 anos, assim como sua entrada no boxe, são passadas rapidamente, sem grandes detalhes.

Com isso, a explicação que deveria surgir para que se entenda o comportamento sempre arredio do pugilista não aparece. Todas as polêmicas que abalaram sua carreira, como o assédio sexual que o levou a três anos de prisão em 1992 ? fato retratado no filme -, poderiam ser explicadas com uma análise mais contundente da psicologia daquele violento garoto de rua, que passou a usar toda a sua força no ringue, para nocautear seus adversários.

Se a narrativa, escrita Robert Johnson, falha e deixa o filme "bonitinho" demais para um contexto tão hostil como o do boxe e de Tyson, as atuações são pontos fortes, com direção do alemão Uli Edel ? indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro com "The Baader Meinhof Complex", de 2008. O ator Michael Jai White, de filmes como "Spawn", foi um achado para o papel, pela semelhança física com o pugilista e também conseguindo passar o temperamento explosivo e introspectivo de Tyson.

No papel do treinador Cus D'Amato, George C. Scott também aparece em grande estilo. Já um dos personagens mais aguardados, o do excêntrico empresário Don King, representado por Paul Winfield, se assemelha mais na parte física, com seu cabelo espetado, do que no habitual temperamento bombástico.

Apesar de se apossar de uma história fascinante como a de Tyson, o filme em questão não soluciona os enigmas que o tornaram um dos maiores campeões dos pesos pesados e que também impulsionaram sua queda, com outras detenções e até o famoso episódio da mordida na orelha do rival Evander Holyfield. Problema que não aparece em outras películas sobre a modalidade, que são recorrentes, como "Ali", sobre Muhammad Ali, por exemplo.

Em tempo, um documentário que promete ser mais fiel aos fatos e, por motivos óbvios de tempo, mais completo, pode saciar os fãs do pugilista. Também intitulado "Tyson", o filme dirigido por James Toback estreou no Festival de Cannes, em 2008, e no exterior neste mês de abril, mas ainda não chegou às salas brasileiras.