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Ficha completa do filme

Drama

O Castelo (1997)

Resenha por Edilson Saçashima

Edilson Saçashima

Da redação 20/08/2010
Nota 4
O Castelo

Poucas questões são respondidas no cinema de Michael Haneke. O cineasta austríaco prefere deixar indagações no ar a oferecer respostas. Quase sempre, as interrogações são acompanhadas por soluções surpreendentes que flertam com o absurdo. Por isso, não espanta que o diretor tenha enfrentado o desafio de adaptar para o cinema o clássico de Kafka, ?O Castelo?.

A obra kafkiana e o cinema de Haneke têm em comum a capacidade de provocar dúvidas que jamais serão respondidas, o que causa a sensação de desorientação no leitor/espectador. Nesse sentido, o livro ?O Castelo? é um exemplo radical, com seu final abrupto e sem um ponto final.

Ao levar o livro para as telas, Haneke conseguiu preservar o espírito kafkiano da obra. O filme tem uma estrutura fragmentária e que é ressaltada pelo uso de cortes secos e o escurecimento da tela ao final de uma cena. É como se faltasse alguma peça que se encaixasse na trama e a tornasse mais compreensível.

É essa impressão de ausência que marca a trajetória de K. (Ulrich Mühe), um agrimensor que tenta exercer sua atividade em uma aldeia. No entanto, falta-lhe algo, que não sabemos exatamente o quê, para que finalmente se torne um trabalhador efetivo.

Esse poder invisível que paralisa K. serve como base para fazer uma longa reflexão sobre dominação e modernidade no século 20. K. é um indivíduo perdido em um mundo dominado pelo absurdo. Dessa percepção, comentadores de Kafka teceram ricas reflexões sobre a obra do escritor.

Haneke manteve-se fiel ao espírito kafkiano e, ironicamente por isso, ?O Castelo? é um filme que destoa da filmografia do austríaco. ?O Castelo? não tem a força do choque e da violência que se tornaram as marcas mais lembradas do cinema de Haneke

Além disso, ?O Castelo?, de 1997, foi lançado na mesma época de ?Violência Gratuita? (1997), filme que fez Haneke despontar como um autor com características próprias.

Some-se a isso a incômoda sombra feita por ?O Processo?, clássico de Kafka que ganhou versão consistente para as telas nas mãos de Orson Welles e um tentador alvo de comparações com o filme de Haneke.

Com todo este contexto exercendo pressão sobre ?O Castelo?, não surpreende que ele seja pouco lembrado por parte considerável da crítica e do público. ?O Castelo? talvez seja o menos hanekiano dos filmes de Haneke. E talvez não seja tão cinematográfico quanto o barroco ?O Processo? de Welles. Mas é com certeza uma adaptação fiel do espírito de Kafka, o que não é pouca coisa.

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