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Ficha completa do filme

Drama

Nelly (2004)

Resenha por Edilson Saçashima

Edilson Saçashima

Da redação 25/09/2009
Nota 5
Nelly

A morte chegou à casa de Nelly, uma enfermeira que vive com seu marido e seus filhos em um vilarejo da França. Colocado desta forma, poderemos esperar imagens que nos irão sugerir dor, perda, ausência. Tudo isso é verdadeiro em ''Nelly'', filme francês de 2004 que está sendo lançado em DVD. Mas a diretora Laure Duthilleul não parece satisfeita com essas interpretações comuns e aposta em outras simbologias para contar a história dessa morte e o luto que se segue.

Manuel (Sébastien Derlich), marido de Nelly (Sophie Marceau), morre durante o sono, mas o seu falecimento só será percebido no dia seguinte, quando Nelly tentará falar com o marido. A conversa tem um ponto de partida sugestivo. Ela diz que está usando o vestido preferido de Manuel na tentativa de chamar a sua atenção. Quando se dá conta da falta de reação do marido, ela descobre sua morte. É mais do que a morte física que o filme trata aqui. É a ausência de demonstração de desejo que ''decreta'' o fim do marido. Trata-se da morte do relacionamento, do vínculo afetivo entre ambos.

A partir de então se inicia um longo percurso para Nelly reconstituir a sua vida sem o marido. Em seu processo de redescobrimento irá se misturar dor, desorientação e despertar. Paralelamente à transformação da protagonista, Manuel, que no início poderia se passar como alguém dormindo numa cama, vai ganhando o aspecto de um morto. Em um primeiro momento, ele é a imagem de um corpo com os braços cruzados sobre o peito. A seguir, o vemos deitado no caixão. Por fim, o caixão deixa a casa.

Fora de casa, o caixão de Manuel é pintado com desenhos coloridos. É uma sugestão de que aquele morto, antes a figura de uma vida concreta, passa a ser uma imagem abstrata. É como se Manuel passasse por uma transição de um personagem real para uma representação simbólica.

No entanto, a cineasta, que faz sua estreia na direção após uma carreira de quase três décadas como atriz, com trabalhos principalmente na TV francesa, abusa de simbolismos e sugestões em ''Nelly''. Em uma das primeiras cenas do filme, Nelly passa ao lado de um apartamento de uma vizinha na pequena vila francesa onde mora. Vemos fumaça saindo do prédio e o corpo de bombeiros chegando ao local. Diante dessa cena, ela diz: ''Antoinette, como de hábito''. Como compreender esse trecho? Talvez seja uma simples gag ou uma sugestão do ?fogo? da libido de Antoinette ou ainda uma simbologia para indicar um lar que se desfaz.

Cada frase ou trejeito dos personagens parece esconder alguma possibilidade interpretativa. De certa forma, Duthilleul luta para que também o espectador se dê conta do mundo ao seu redor e (re)descubra a vida. Não é à toa que são os personagens infantis, ''repletos de vida'' por natureza, que filmam cenas prosaicas como uma pequena câmera quase como se fossem epifanias. Em um determinado momento do filme, um personagem se pergunta: ''viver de outro jeito como?'' Com ''Nelly'', Duthilleul quer mostrar as respostas possíveis.

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