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Ficha completa do filme

Documentário,Musical

Fados (2007)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 11/06/2010
Nota 3

Carlos Saura já teve dias melhores no panorama do cinema mundial. Bem melhores, é necessário dizer.

Nos anos 1960 realizava parábolas políticas e modernas como "A Caça" (1966), ''Peppermint Frappé'' (1967) e ''Stress-es Tres-tres'' (1968). Nos anos 1970, com o endurecimento da ditadura franquista, realizou filmes enigmáticos, no limite do hermetismo, mas com um trabalho estético revigorante. Obras como ''Ana e os Lobos'' (1973), ''A Prima Angélica'' (1974) e ''Cria Cuervos'' (1976) definiam a Espanha como um país moribundo, dominado por pessoas vis que seriam coniventes com uma brutalidade absurda da sociedade.

Com a morte do General Franco em 1975, e o progressivo fim da ditadura nos meses seguintes, Saura ficou meio órfão. Ele parece ter percebido que não tinha mais como fazer parábolas. Mesmo assim, seguiu em frente com os painéis alegóricos, até que o fantasma fosse completamente exorcizado, em filmes como ''Elisa Minha Vida'' (1977), ''Olhos Vendados'' (1978) e o surpreendente ''Mamãe Faz Cem Anos'' (1979), no qual estabelecia a Espanha como uma velha senhora testemunha da vulgarização dos filhos e dos espanhóis.

Nos anos 1980, começou uma série de filmes musicais, com especial destaque para a trilogia flamenca (''Bodas de Sangue'', ''Carmem'' e ''Amor Bruxo'', de 1982, 1983 e 1986, respectivamente).

A partir desse interesse musical sua carreira dá uma guinada em direção ao filme-estalagem, ou filme-tableau. Não importa mais a narrativa, mas as sensações que as cores e sombras pudessem despertar sob os ritmos que dominavam as imagens. Nessa fase, realizou filmes dependentes demais da fotografia, e para isso contou com o auxílio de Vittorio Storaro, analisando o poder visual que outros estilos musicais oferecem.

''Fados'' remete aos filmes musicais dos anos 1990, obras de estética forte, mas um tanto engessada em sua própria beleza: ''Flamenco'' (1995) e ''Tango'' (1998) - filmes bons de se ouvir, mas que não conseguiam esconder que por trás da pesquisa musical estava uma irreversível decadência visual.

A estrutura é a mesma. Telas espalhadas por um palco imenso, com ou sem projeções, diversos músicos introduzindo os diferentes estilos de fado, bem como as modas e derivados musicais. Fado de Lisboa, fado menor, modinhas, fado de Cabo Verde, fado flamenco, Alfacinha, até a música brasileira foi contemplada, com aparição de Carlinhos Brown, Chico Buarque, Caetano Veloso (apesar de que este canta um fado) e outros. Há ainda homenagens a grandes nomes do passado português.

Musicalmente, é rico e agradável de se ver. Mas precisava ser um filme? Não seria mais modesto e prazeroso se fosse um programa de TV? Há algo de repetitivo e enfadonho nesse projeto musical de Saura, que se enfraquece a cada filme. É como se ele realizasse algo que já recebesse uma aprovação prévia, pois o fã de fado não vai descartá-lo por aspectos cinematográficos ausentes, e o melômano dificilmente reprovaria um filme tão submisso à paixão musical. O cinéfilo, no entanto, vai sentir que falta uma entrega maior ao poder da sucessão das imagens, ao que faz o cinema existir, em suma.

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