UOL Entretenimento Cinema
 

Ficha completa do filme

Drama,Romance

Brideshead - Desejo e Poder (2008)

Resenha por Márcio Ferrari

Márcio Ferrari

Da redação 11/06/2010
Nota 3

Com produção da BBC e um diretor também oriundo da televisão (Julian Jarrold), ''Brideshead - Desejo e Poder'' já carrega de saída dois pesos. O primeiro é o de sua respeitável origem, o romance ''Brideshead Revisited'', de Evelyn Waugh (1903-1966). O segundo é o da adaptação anterior, uma cultuada minissérie feita em 1981 pela TV Granada e exibida no Brasil pela TV Cultura. Mas o grande fardo que o filme não consegue levantar do chão é a dificuldade de lidar com a essência do romance de Waugh, um elogio da aristocracia e uma crítica à ''plebeização'' da política britânica, acelerada pelas duas guerras mundiais. Publicado no Brasil primeiramente como ''A Volta à Velha Mansão'' e depois como ''Memórias de Brideshead'' (o mesmo título da minissérie), o livro é de 1945.

Se fosse levado às últimas consequências, o anacronismo esnobe de Waugh provavelmente afugentaria a maior parte do público. Assim, sem a força do estilo do escritor, a adaptação briga com o material original a ponto de tirar boa parte de seu sentido.

O filme começa com um pequeno mas forte monólogo do soldado Charles Ryder (Matthew Goode), em que ele declara: ''Não sei mais dizer se essas emoções são minhas ou roubadas daqueles que eu tão desesperadamente quis ser.'' Ryder está de volta ao agora desocupado castelo de Brideshead, onde cerca de 20 anos antes viveu férias memoráveis na companhia da família de nobres católicos Marchmain.

Filho da classe média e aspirante a pintor, Ryder toma contato com o clã graças à amizade do filho mais novo, Sebastian (Ben Whishaw), seu colega em Oxford, com quem mantém uma relação amorosa. Em pouco tempo ele se envolve também com a irmã de Sebastian, Julia (Hayley Atwell). Tudo acontece sob o olhar vigilante da matriarca (Emma Thompson), católica devota, autoritária e sempre culpada por seus filhos não serem o que ela gostaria que fossem. À medida que a relação entre Charles e Julia se intensifica, Sebastian afunda no alcoolismo.

Nas mãos de um bom diretor, poderia até ser material para um melodrama interessante. Mas Jarrold literalmente foge dos personagens para mostrar os cenários: além das locações no castelo Howard, em Yorkshire, com sua assustadora arquitetura barroca, há sequências no Marrocos e em Veneza.

O filme termina com uma grande advertência moral, profundamente católica, que não encontra correspondência dramática no que veio antes, exceto no mencionado monólogo inicial. A derrocada da família de nobres deveria ser inscrita na história do protagonista como uma consequência de sua cegueira à graça divina, já que é ateu e ganancioso. Mas o que o filme mostra é um personagem antes de tudo sensato e cheio de energia. Sua incapacidade de compreender e valorizar a iniciação religiosa da família Marchmain soa, de fato, como uma salvação.

Compartilhe:

    Siga UOL Cinema

    Sites e Revistas

    Arquivo