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Ficha completa do filme

Drama,Ação,Policial

Inimigo Público Nº1 - Instinto de Morte (2008)

Resenha por Edilson Saçashima

Edilson Saçashima

Da redação 20/10/2009
Nota 3

Uma rápida olhadela na biografia do bandido Jacques Mesrine, protagonista de "Inimigo Público Nº 1 - Instinto de Morte", que a Califórnia Filmes lança em DVD, revela o vespeiro que é tratar de sua vida. Ex-combatente na Guerra da Argélia, ele se tornou um criminoso que praticava roubos, seqüestros e assassinatos, concedia entrevistas, se tornou uma espécie de celebridade e foi declarado inimigo público número 1 na França, na década de 70. De um lado, sua trajetória é um prato cheio para o cinema, de outro, ele é um personagem que tocou em algumas feridas da sociedade francesa.

O diretor Jean-François Richet sabia dos riscos que estava correndo. Logo no início do filme, a primeira de duas partes da cinebiografia de Jacques Mesrine (a segunda deve ser lançada no Brasil até o final do ano), um aviso lembra que um filme sempre adota um ponto de vista e não é capaz de captar toda a identidade de um personagem real. O recado tenta minimizar qualquer possibilidade de julgamento moral do espectador em relação ao personagem.

O filme começa com a morte do criminoso em uma emboscada no meio de Paris. É como se a morte fosse o elemento que vai dar sentido à vida do personagem. Seria uma espécie de "rosebud" de Mesrine. Vale lembrar que, no original em francês, o filme se chama "L'Instinct de Mort".

Sabe-se que, na vida real, Mesrine foi morto pela polícia francesa. Para o espectador que não conhece a história, o filme não se presta a dar explicações sobre a morte. Mas não é preciso muito esforço para se notar que o filme é crítico em relação à França.

Após a seqüência da emboscada, o filme passa para a Guerra da Argélia. Mesrine, vivido por Vincent Cassel, luta pelo exército francês. A cena mostra o conflito moral de Mesrine durante uma sessão de tortura. Aos olhos franceses, Richet revela uma devastadora imagem do país como assassino. É como se tanto o governo como a sociedade francesa fossem responsáveis pelo surgimento de um criminoso que se tornaria o inimigo público número um do país.

Um exemplo é a tentativa de reabilitação de Mesrine após um período na prisão. Ele é contratado por um dono de oficina de maquetes, porém, a situação financeira exige cortes no quadro de funcionários, e Mesrine sente ser ele um dos que podem perder emprego devido à sua condição de ex-presidiário. A cena sugere uma crítica na incapacidade do governo em reinserir presos reabilitados na sociedade.

Richet compreende o criminoso como uma pessoa destituída de valores após a Guerra da Argélia, o que é uma visão muito mais desconfortável do que notar Mesrine como a personificação do mal. Sua amoralidade pode ser notada nos momentos em que opta pela família e, em outro momento, a renega e escolhe o crime, na figura do mafioso Guido, que ganhou um ar de malignidade enigmática nas mãos de Gerard Depardieu.

"Inimigo Público Nº 1 - Instinto de Morte" deixa no ar uma certa frustração por interromper a biografia no meio, mas consegue propor uma genealogia do criminoso. Agora é aguardar o segundo filme para ver que caminhos Richet irá tomar.

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