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Ficha completa do filme

Drama

A Fita Branca (2009)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 20/08/2010
Nota 1

Há um certo consenso entre uma parcela da crítica que não se entusiasma com o cinema de Michael Haneke, que "Caché" (2005) é seu melhor filme.

Existem, claro, os que não gostam de nenhum, mas esses precisam fazer ao menos uma revisão do filme em questão, ou deste mais recente, "A Fita Branca" (2009). Esquecendo, claro, a desnecessária (mas nem por isso desprezível) refilmagem americana de "Violência Gratuita" (1997) feita entre um e outro, dez anos depois do original. Não por ser vergonhosa, mas porque nada deve mudar no julgamento de quem gosta ou não gosta do diretor.

Haneke sempre procurou radiografar um mal estar europeu, desde seu filme de estreia, "O Sétimo Continente" (1989), mas com maior clareza em "Código Desconhecido" (2000), "Tempos do Lobo" (2003) e "Caché". Mal estar que tanto deriva da imigração maciça de gente de países pobres quanto da reação a essa imigração, mas também, e sobretudo, de uma vergonha pelo passado colonizador, o que se sobressai principalmente em seus filmes franceses.

Em "A Fita Branca" viaja ao passado, mais especificamente aos anos anteriores ao surgimento do nazismo, num vilarejo pacato em que estranhos atos de violência começam a acontecer.

Nada é muito explicado (ainda bem, pois o mistério acentua a dramaturgia) e as mortes que se acumulam não encontram culpados. É como se Haneke dissesse: a culpa é das normas rígidas da sociedade alemã, da educação hipócrita que é passada através das gerações.

Convém, em todo caso, não atentar muito para a história. Seria pedir para se decepcionar, e ainda mais, cinema não é só história. O importante é a psicologia dos personagens, o clima claustrofóbico das cenas, fotografadas em preto e branco soturno, num trabalho de mestre de Christian Berger - colaborador habitual de Haneke desde "O Vídeo de Benny" (1992) -, e as interpretações austeras dos atores.

Alguns momentos derivados dessa austeridade beiram o constrangedor, e estão na parte mais problemática da maneira Haneke de imprimir o drama, prejudicando gravemente a fruição da obra. Penso, por exemplo, na cena em que o médico ofende a amante que passou a cuidar de seus filhos. Com uma maldade extrema, que parece estar ali não para definir a psicologia de um personagem, mas para impressionar o espectador de maneira meio pobre e grosseira, a cena acaba traindo o clima tão brilhantemente construído desde o início. Teria sido melhor se momentos de estouro como esse, se não fossem construídos como efeitos naturais de tensões que desabrocham (o que definitivamente não é o caso), ficassem fora do filme. O espectador ficaria muito mais impressionado com o ambiente e com o mal estar, pois o aparente "nada" construído por Haneke parece sempre mais aterrorizante.

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