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Ficha completa do filme

Drama

Corações em Conflito (2009)

Resenha por Edilson Saçashima

Edilson Saçashima

Da redação 01/10/2010
Nota 1
Corações em Conflito

O cineasta sueco Lukas Moodysson usou o talento e carisma do ator Gael García Bernal para tratar de um assunto tão abstrato como a ideia de globalização. "Corações em Conflito" tem como tema o mundo moderno sem fronteiras que, na visão do diretor, levaria o ser humano a se distanciar de seus valores afetivos.

O filme gira em torno de uma jovem família em Nova York. Bernal e Michelle Wiliams são o casal Leo e Ellen Vidales, um jovem empresário do mundo da internet e uma médica cirurgiã. Eles têm uma filha de oito anos que é assistida a maior parte do tempo pela empregada doméstica Gloria, uma filipina que deixou seu país e seus filhos para juntar dinheiro.

Leo parte para a Tailândia para fechar um contrato de negócios, mas uma renegociação o obriga a permanecer no país por mais tempo e, por isso, decide se aventurar pela região. É quando conhece a prostituta Cookie.

Nessa mistura de nacionalidades, Bernal serve para sintetizar o retrato da globalização proposta por Moodysson. O personagem do ator de "Amores Brutos" e "Diários de Motocicleta" é um homem bem-sucedido que progrediu profissionalmente lidando com a internet, uma ambiente marcado pela ausência de fronteiras. Mais importante, ele é um latino em uma NovaYork multicultural e cosmopolita, uma cidade que simboliza o mundo globalizado moderno.

Porém a latinidade do personagem de Bernal é apagada. A interpretação sóbria e contida do ator contribui para ressaltar esse apagamento de traços culturais. Essa impressão ainda é ressaltada pelo casamento do personagem com uma branca loira, um estereótipo de beleza ocidental.

A figura que representa uma cultura local fica por conta da empregada Gloria. Ela consegue cativar a filha dos Vidales ensinando palavras do idioma de seu país, o que provoca ciúmes em Ellen. Talvez para expressar sua crítica ao mundo moderno, Moodysson tenha batizado a personagem de Gloria, um nome que parece um grito de louvor do cineasta a uma identidade cultural evidente em uma sociedade basicamente asséptica, que ganha representação em imagens como o cenário do hospital onde Ellen trabalha e da própria casa moderna dos Vidales.

Mas Gloria está longe de personificar algum otimismo de Moodysson. A opção da filipina em imigrar para os EUA em busca de trabalho tem um preço. Seu filho, que ficou nas Filipinas, sente a ausência da mãe e, num ato um tanto inconsequente e desesperado, decide buscar trabalho para poder ter dinheiro e, assim, fazer com que Gloria possa estar ao seu lado. Novamente o nome do personagem revela o posicionamento do cineasta. O garoto é chamado de Salvador. Porém, seu destino expõe o pessimismo de Moodysson em relação ao mundo atual. O trabalho será a perdição desse salvador.

Na visão do cineasta, é como se o trabalho e a força do dinheiro fossem fatores de perda da identidade cultural e dos valores afetivos do homem. Em poucas palavras, eles provocam a desumanização do ser humano.

Essa proposta torna "Corações em Conflito" um filme árido e de difícil digestão. O tratamento dado por Moodysson a seus personagens, em especial às mulheres, lhe valeu acusações de misoginia. O filme estreou no Festival de Berlim de 2009 com uma recepção fria. É compreensível a frustração. O filme está longe da leveza e acessibilidade dos trabalhos mais conhecidos de Moodysson, como "Amigas de Colégio" (1998) e "Bem-Vindos" (2000).

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