Num texto sobre este novo produto do cinema independente americano chamado ''Jogo de Mentiras'', vale começar por uma cena prosaica, perdida no meio da trama, para já introduzir o leitor no clima do filme. Thomas Haden Church, o mini-Schwarzenegger de plantão, entra no taxi e pergunta: ''Onde está Samuel?''. O taxista responde: ''Samuel, acho que está em outra corrida. Por que? Você é amigo dele?'' ''Não sei''.
Sinceramente, o que um roteirista tem na cabeça para escrever um diálogo desses? E o diretor, não tinha amigos que o dissessem que era algo inaceitável? Se o diretor e o roteirista forem a mesma pessoa, o que é justamente o que acontece aqui, a coisa se explica um pouco, mas ainda assim é imperdoável.
Esse diálogo é paradigmático da geração de cineastas americanos independentes. É ainda mais grave quando acontece na segunda metade do filme, depois de um diálogo igualmente pobre com o tal do Samuel e de algumas reviravoltas na trama.
Esse cinema da estranheza que essa geração de indies americanos tenta fazer raramente dá bons frutos. São todos imitadores de Hal Hartley - cineasta que deu o que tinha que dar até meados dos anos 1990, com filmes instigantes e estranhos como ''Confiança'' e ''Amateur'', e depois caiu na mediocridade - e existem em toda parte dos EUA desde que Sundance criou esse selo de qualidade potente no mercado e de falsidade estética impressionante, mas que norteia mesmo os trabalhos de quem passou longe do festival. O diretor e roteirista Jake Goldberger é apenas mais um desses seguidores.
Uma pena, pois um elenco com Melissa Leo, Elizabeth Shue e o já mencionado Haden Church poderia render muito mais se fossem esquecidas certas regras básicas da esquisitice presa a uma fórmula cult. Um bom exemplo de potencial não plenamente alcançado é o clímax. Mesmo com a direção desajeitada de Goldberger, que decupa e enquadra mal uma situação bem interessante de seu roteiro, dá para rir um bocado com as mini-reviravoltas. É quando a estranheza quase se justifica por completo. Porém, a essa altura, o filme já tinha exagerado o suficiente na categorização dos personagens para que não nos envolvêssemos tanto com essa situação bizarra.