UOL Entretenimento Cinema
 

Ficha completa do filme

Drama

No Meu Lugar (2009)

Resenha por Márcio Ferrari

Márcio Ferrari

Da redação 14/01/2011
Nota 3

Crítico importante e autor de vários curtas-metragens, entre eles um premiado em Cannes (''Um Sol Alaranjado'', 2001), Eduardo Valente estreou no longa com este filme árduo. A experiência de crítico provavelmente despertou nele um desagrado legítimo com o modo como o cinema brasileiro vem abordando a violência urbana e a cidade do Rio de Janeiro, e sua disposição em mostrar uma visão diferente acabou resultando numa atitude reativa, dominada pela negação.

O próprio acontecimento que reúne as histórias do filme é um episódio de violência não mostrado ao espectador. Sabe-se que é um assalto a uma casa de classe média alta, vizinha de uma favela, e que um policial faz um disparo precipitado.

Os três núcleos dramáticos desenvolvidos em seguida são compostos pela família que vem a ocupar a casa, o policial sob investigação e sua filha, e a empregada da casa, que namora um entregador de supermercados, filho de uma família da favela.

A temporalidade dos vínculos entre esses três núcleos e suas relações com o episódio gerador vão se revelando bem aos poucos, não raro deixando o espectador num estado de perplexidade, questionável como recurso (paira no ar aquilo que Hitchcock condenaria como um jogo pouco leal), mas interessante como meio de desarmar expectativas fáceis e costumeiras.

A intenção do diretor de testar o olhar do público ao recusar a violência como espetáculo não é totalmente frustrada. Quando se chega à forma final da equação, percebe-se que Valente conseguiu tornar seus personagens suficientemente complexos para afastar um moralismo apressado. E o espectador resistente (a repetições, entre outras coisas) terá tido uma jornada de participação, o que é raro.

Isso não diminui a sensação de que as coisas se desenrolam no escuro, literalmente. Há dois blecautes (ou será um só?) no enredo, mais dois escurecimentos de tela longuíssimos e a fotografia é ostensivamente subexposta. Isso torna algumas cenas muito bonitas (como a do jogo de futebol), mas na maior parte das vezes a falta de luz é um elemento aflitivo e extenuante.

A combinação da iluminação que desnorteia com a intenção ''clara'' de convidar à intimidade dos personagens é um dos vários aspectos crispados do filme, que eventualmente chegam a bom resultado, em particular em duas cenas com o entregador Beto (Raphael Sil): uma num diálogo com um tio alcoólatra, outra na cama, com a namorada, numa conversa solta. São dois momentos que não têm importância central na trama, mas nos levam ao cerne das emoções em jogo.

A impressão final é de um filme hesitante feito por um diretor talentoso.

Os extras do DVD são o comentário do filme por Valente e pelo crítico Pedro Butcher, um documentário sobre as filmagens e cenas não aproveitadas.

Compartilhe:

    Siga UOL Cinema

    Sites e Revistas

    Arquivo