UOL Entretenimento Cinema
 

Ficha completa do filme

Drama

Os Famosos e os Duendes da Morte (2009)

Resenha por Márcio Ferrari

Márcio Ferrari

Da redação 12/11/2010
Nota 1

É preciso saudar ''Os Famosos e os Duendes da Morte'', antes de qualquer coisa, por ser um filme sobre jovens (e, vá lá, para jovens) que não arrasta consigo os ''grandes temas'' costumeiramente atribuídos a esse segmento tão maltratado e sujeito a oportunismos. O diretor Esmir Filho não pretendeu aqui discutir o uso de drogas, nem as configurações familiares supostamente novas, nem a gravidez precoce ou indesejada, nem os dilemas da escolha de carreira, nem a iniciação sexual.

A rigor, a única questão em foco é a subjetividade do personagem central (Henrique Larré), sem nome próprio além do que ele usa na internet, Mr. Tambourine Man, tirado da canção de Bob Dylan. O filme é quase só ele. Entre os outros poucos personagens, alguns podem até ser apenas virtualidade ou imaginação.

Mr. Tambourine Man tem 16 anos e vive entre as limitações de uma cidade pequena do interior do Rio Grande do Sul e a infinidade da internet. Além de idolatrar Dylan, é obcecado por uma misteriosa figura feminina adolescente chamada de Jingle Jangle (Tuane Eggers), tem um bom amigo com quem conversa, fuma maconha e pega carona de bicicleta (Samuel Reginatto) e mora sozinho com a mãe (Áurea Baptista). Vive um cotidiano entre o real e o irreal, entre o concreto e o incorpóreo (''Estar perto não é físico'', ele escreve mais de uma vez na tela do computador), entre a província e o mundo. O que o move é a vontade de sair dali para assistir a um show de Dylan em algum lugar mais cosmopolita.

O filme evoca uma ''realidade'' fantasmagórica, acentuada pelo clima frio de uma cidade cercada de bosques e cortada por uma ferrovia. Há uma história (na verdade uma situação) que se revela esparsamente enquanto o enredo parece se dilatar e se contrair, como nos sonhos. Tirando proveito da sabedoria dos filmes de terror, Esmir Filho lembra mais David Lynch do que Gus Van Sant. Em vários momentos, o longa de estreia do diretor (depois de vários curtas bem cotados) provoca aquela espécie de medo ou de diversão sem lógica do universo onírico, como no encontro com os avós, na montagem paralela entre a festa junina e o caminho noturno para a plantação ou no diálogo etílico com a mãe.

Em parte o filme extravasa pelas beiradas com reiterações, em parte deixa alguns aspectos apenas na intenção. A relação do personagem com a internet, se é indispensável para pôr as coisas em movimento, não se revela no enredo: Mr. Tambourine Man parece simplesmente usar a rede para conversar, como qualquer outro adolescente. A influência de Dylan em sua vida e suas ideias é ainda mais rarefeita. Nem parece ter muita importância, nem se mistura ao filme. Do compositor, a trilha contém apenas ''Mr. Tambourine Man'', ao lado de um número excessivo de canções em inglês de um certo Nelo Johann, que não é nenhum Dylan.

Os extras do DVD também sofrem de excesso. O making of, as cenas excluídas e, sobretudo, os clipes sem música de Jingle Jangle têm tanta semelhança com o próprio filme que provocam uma sensação de overdose. Não é recomendável assistir a tudo de uma vez, porque a memória do prato principal merece ser preservada.

Compartilhe:

    Siga UOL Cinema

    Sites e Revistas

    Arquivo