''Splice - Uma Nova Espécie'' é um misto de ficção científica com ''filme de monstro''. Infelizmente, os ingredientes de um não se misturam com os ingredientes do outro.
O filme desenvolve-se razoavelmente bem, com premissa interessante e construção eficiente da trama e dos questionamentos que surgem dessa construção, até certo ponto, antes de se mostrar previsível e trivial, o que geralmente não faz bem a filmes desse tipo.
Adrien Brody e Sarah Poley são dois cientistas, casados entre si, que, após algumas experiências, acabam criando uma nova espécie, derivada do DNA humano (justamente o da personagem de Poley). Obviamente esse experimento apresentará seus problemas em pouco tempo, e a representar uma ameaça que não se restringe aos dilemas morais dos envolvidos.
Os acontecimentos a partir de então começam a ser adivinhados sem muito esforço pelo espectador, com uma ou outra variação insuficiente para deixar a coisa mais interessante.
O diretor Vincenzo Natali nasceu nos EUA, mas foi estudar cinema no Canadá, despontando em festivais com seu longa de estreia, o cult movie ''Cubo'' (1997). Nessa obra inicialmente estranha, mas que terminava soando apenas como mais uma, graças às concessões em direção ao óbvio - final cheio de ação e vazio de imaginação - pessoas ficam presas dentro de uma espécie de armadilha em forma de cubo, que revela-se algo muito mais complicado do que aparentava em princípio.
''Splice'', nesse sentido, é mais direto. Mais conservador, podemos dizer, sem que isso signifique algo necessariamente prejudicial ao seu desenvolvimento.
O problema é que Natali fica dividido entre a estranheza e a convenção, e nessa indecisão coloca as possibilidades da trama em segundo plano. E se tudo é óbvio, as soluções vão se desenhando de maneira cada vez mais manjada.
Sarah Poley não está tão mal como a cientista sedenta por novidades e descobertas. Mas algumas de suas falas são ridículas, especialmente as que insinuam uma nobre missão e procuram esconder a vaidade intelectual de todo cientista.
Adrien Brody, por sua vez, parece completamente fora de seu papel, assemelhando-se mais a um colegial (com seu cabelo ''emo'') que brinca de ser cientista maluco com alguns coleguinhas, e suas falas mais reticentes aos avanços do projeto de sua parceira não ajudam a desfazer essa sensação.
Natali, assim, parece condenado a ser um cineasta do quase, e seu filme em momento algum deixa o confortável casulo para se tornar algo realmente impactante.