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Ficha completa do filme

Comédia,Romance

Tudo Pode dar Certo (2009)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 14/10/2010
Nota 4

Já é ponto pacífico que a temporada de filmes na Europa fez muito bem a Woody Allen. Antes de filmar na Inglaterra, Allen tinha realizado dois filmes irregulares, que estavam muito aquém de suas possibilidades, "Igual a Tudo Na Vida" (2003) e "Melinda e Melinda" (2004) - embora seja bom ressaltar que seus filmes quase sempre melhoram em revisões, então é difícil ter uma opinião definitiva sobre eles.

Com "Match Point - Ponto Final" (2005), redescobriu uma maneira clássica de narrar, auxiliada por sua habilidade incrível como encenador. Uma história muito bem contada, com atores excelentes e uma direção que se valia de todas as possibilidades de dramaturgia que tinha em mãos.

Seguiram-se o agradável "Scoop - O Grande Furo" (2006) e o magistral "O Sonho de Cassandra" (2007), facilmente seu melhor filme neste século 21. Neste último, Allen conseguiu a proeza de obter a melhor interpretação de Colin Farrell, bom ator que constantemente escorrega nos filmes em que atua.

Após "Vicky Cristina Barcelona", seu quarto filme rodado na Europa, Allen sentiu-se revigorado para voltar à sua Manhattan querida, e com isso desenterrou um antigo projeto, que ganhou novos contornos com a entrada de Larry David no papel principal.

O filme é "Tudo Pode Dar Certo", seu penúltimo filme pronto (o último, "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos", tem estreia prevista para 29 de outubro), e essa volta a Nova York foi saudada por muitos críticos como uma volta à grande forma. Esqueceram-se da sequência incrível de filmes realizados na Europa, mas com Allen a memória crítica de muitos costuma falhar, infelizmente.

O mais notável neste filme é o mau humor contagiante do protagonista. Ele fala com a câmera (o público), ofende diversas pessoas (incluindo o público), trata mal quem se preocupa com ele, mas não conseguimos sentir antipatia por ele, o que pode ser creditado à brilhante performance de Larry David. Allen concorda, e disse que seria impossível para ele representar o papel que David representou e conseguir a mesma empatia ofendendo o público e os demais personagens.

Trata-se de um personagem pessimista e negativo, como vários outros de Allen, mas igualmente delicioso de ser seguido. Suas tiradas sarcásticas são verdadeiras aulas de humor, e ele encontra na doçura ingênua da personagem de Evan Rachel Wood o contraponto perfeito para suas neuroses.

Novos personagens surgirão, dando um contorno raramente visto, com piada que glorifica a homossexualidade (como? num filme de Woody Allen?), uma abertura enorme ao sobrenatural, um brilhante uso das conversas com a câmera (o público) e uma liberdade dramatúrgica poucas vezes alcançada pelo cineasta.

Quem não gosta de ter surpresas reveladas, deve parar de ler por aqui, pois há um comentário ainda a ser feito, e diz respeito ao desfecho de "Tudo Pode Dar Certo": Allen ja declarou que não gosta do final de "Hannah e Suas Irmãs" (1986) por ser muito amarrado, e que desde então tem evitado esse tipo de final.

Pois bem, a ironia é que o final deste filme é incrivelmente amarrado, num tom ainda maior de fábula do que o existente em "Hannah", e com direito a uma grande piada como última fala. O resultado, por incrível que pareça, se equipara aos grandes momentos da carreira desse grande diretor, de quem sempre devemos rever os filmes, pois é muito fácil percebermos que estávamos enganados quando a impressão não é boa.

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