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Ficha completa do filme

Policial

Vício Frenético (2009)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 05/11/2010
Nota 1

Em 1992, Abel Ferrara realizou a obra prima ''Vício Frenético'' (Bad Lieutenant), que retrata a descida ao inferno de um detetive novaiorquino interpretado por Harvey Keitel, drogado e corrupto, que investiga o estupro de uma freira por dois pobres imigrantes. É um filme pesado, que parece contaminado pela droga que seu personagem injeta sem moderação.

Dezessete anos depois, o cineasta alemão Werner Herzog, tão bom e importante para o cinema quanto Ferrara, que cunhou reputação de grande autor graças a filmes como ''Aguirre - A Cólera dos Deuses'' (1972), ''Coração de Cristal'' (1976) e ''Fitzcarraldo'' (1982), e que a partir dos anos 1990 realizou alguns documentários muito elogiados, alguns em co-produção com os Estados Unidos - ''Lições da Escuridão'' (1992), ''Meu Melhor Inimigo'' (1999) e ''O Homem Urso'' (2005) sendo os mais festejados -, realizou o que muitos entendem (erroneamente) como uma refilmagem do filme de Ferrara, com Nicolas Cage no papel do policial.

O título brasileiro, ''Vício Frenético'', contribui para a confusão, assim como parte do título original (''The Bad Lieutenan: Port of Call - New Orleans''). No original, há uma mudança que não deve ser menosprezada: o acréscimo do artigo antes da adjetivação.

A conexão forçada é bem desfavorável a Herzog, o que é uma injustiça com esse diretor. Herzog já não precisa provar mais nada, e como se não bastasse a realização dos filmes citados anteriormente, ainda realizou uma pérola do cinema americano, e um dos melhores filmes passados durante a Gerra do Vietnã: ''O Sobrevivente'' (''Rescue Dawn'', 2006).

Sobre o novo ''Vício Frenético'', algumas similaridades são sensíveis: o detetive corrupto e drogado, o clima ''está tudo errado com a instituição policial'', a direção embriagada para corresponder ao inferno espiritual do personagem.

As diferenças, contudo, falam mais alto. A principal delas é que o novo filme não se passa em Nova York, mas em Nova Orleans, e por isso contém uma série de observações sobre a tragédia do furacão Katrina, que destruiu boa parte da cidade. Outra diferença importante reside no tom, menos amargo e mais cômico, do filme de Herzog.

O novo ''Vício Frenético'' tem mais sintonia com um policial convencional, embora de convencionalismo ele tenha de fato muito pouco. Algumas sequências se encaixam com perfeição no imaginário do filme policial americano de sucesso popular, mas quando isso acontece, Herzog encontra uma maneira de fechar o momento com um delírio particular. Dois momentos são exemplares desse procedimento: quando Nicolas Cage faz uma transação com um gangster negro, e um outro gangster vai cobrar uma dívida, causando um tiroteio dentro da casa, a sequência termina com a alma do gangster realizando passos de dança de rua - algo como uma fusão do break com o hip-hop - e uma iguana andando entre os cadáveres. Um outro momento acontece quando os policiais estão de tocaia, com os diálogos comuns a essa situação, e Cage enxerga duas iguanas em sua mesa, e as iguanas começam a cantar um soul.

Esses momentos fazem com que a pseudo refilmagem cresça, mas assim mesmo é inevitável a constatação de que está aquém do filme de Ferrara, além de não estar entre os melhores filmes do grande diretor que é Werner Herzog.

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