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Ficha completa do filme

Drama

Aparecida - O Milagre (2010)

Resenha por Edilson Saçashima

Edilson Saçashima

Da redação 29/04/2011
Nota 1

"Aparecida - O Milagre" sofre de um pecado capital. Enquanto sua trama mostra um empresário cético e focado no mundo material que se transforma em um homem que reconquista a fé, o filme segue a direção contrária. Ele usa a religiosidade para se tornar um produto racional construído para consumo em massa.

O trabalho da cineasta Tizuka Yamazaki, que tem em seu currículo filmes como "Gaijin" e a direção de novelas, chegou aos cinemas arrastado pela onda de obras que se baseavam em um tema de fundo religioso, que incluem os espíritas "Chico Xavier" e "Nosso Lar" e o católico "Maria, Mãe do Filho de Deus".

"Aparecida" aposta em atingir um público evidente: os devotos de Nossa Senhora de Aparecida. É um publico que, segundo estimativas, representa cerca de nove milhões de pessoas, se for levado em conta o número de visitantes que anualmente comparecem ao santuário da santa em Aparecida, no interior de São Paulo.

O santuário também serve de cenário para introduzir a trama. Em um longo flashback, o filme mostra a origem de Marcos, o protagonista que será o futuro empresário cético. Nessa fase do filme, vemos o garoto Marcos (vivido por Vinícius Franco) vivendo uma infância de felicidade ao lado de seu pai, um homem imbuído de uma missão religiosa que o faz recusar uma vida economicamente melhor em outra cidade.

A fase da infância de Marcos é retratada com imagens clássicas de um imaginário sobre a felicidade infantil: o jogo de pelada na rua, uma molecagem com uma garota, um pai admirável. Tudo isso é mostrado com a presença de ícones religiosos no cenário, seja através da imagem do santuário, de uma igreja ou da própria Nossa Senhora de Aparecida.

Tudo isso muda com a morte trágica do pai de Marcos. É o momento da perda da fé de Marcos e que irá transformá-lo no homem de negócios voltado aos bens materiais. Além disso, a versão adulta do protagonista (Murilo Rosa) é um personagem cujo casamento fracassou, que não compreende a vocação artística de seu filho e ainda desconfia que ele consuma drogas. Aqui já não vemos imagens religiosas, mas dramas comuns no mundo moderno. O tema da religiosidade irá voltar após uma nova tragédia na vida de Marcos.

"Aparecida" foi produzido com a preocupação de atingir um público das classes C e D, como o próprio produtor Paulo Thiago deixou evidente em entrevistas na época do lançamento do filme. A estratégia para ter na plateia esse público foi transformar o trabalho cinematográfico em um produto com aparência de novela de televisão. Seja na escolha do elenco ou na estrutura de melodrama, "Aparecida" soa como uma novela das seis da TV Globo.

Essa estrutura garante um produto acessível para todos os públicos, de crianças a adultos, de agnósticos a religiosos. Por outro lado, deixa a sensação de ser um filme raso, que se contenta em navegar no lugar comum sem arriscar soluções mais criativas ou ousadas. O papel de Maria Fernanda Cândido é um exemplo disso. Sua personagem parece existir apenas para verbalizar aquilo que o roteiro não foi capaz de apresentar uma solução cinematográfica mais elaborada.

Na ausência de fé no cinema, o único milagre que "Aparecida" realiza é a multiplicação de um padrão de produto audiovisual.

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