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Ficha completa do filme

Policial,Ação

Ilha do Medo (2010)

Resenha por Márcio Ferrari

Márcio Ferrari

Da redação 28/01/2011
Nota 3

Em poucos minutos "Ilha do Medo" mostra o jogo. Ainda no barco que o levará à ilha onde se encontra um instituto para criminosos com distúrbios mentais, o agente federal Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) passa mal com a oscilação do mar. Em seguida conversa com um colega (Mark Ruffalo) que não conhecia até ambos serem designados para a mesma missão: solucionar o mistério do desaparecimento de uma interna da ilha, condenada por ter matado os três filhos. Ao falar de sua namorada, morta num incêndio criminoso, Daniels tem uma lembrança ou alucinação. Quando desembarcam na ilha, é evidente que, embora estejam ali como autoridades, os dois logo se transformarão em prisioneiros, concreta e simbolicamente.

Outros símbolos e delírios não faltarão nessa extravagância político-psicanalítica construída pelo diretor Martin Scorsese a partir de um romance de Dennis Lehane (o autor de "Sobre Meninos de Lobos", adaptado por Clint Eastwood para o cinema). A investigação do sumiço da prisioneira e as imagens interiores do agente Daniels se misturam não só como trajeto individual, mas como evocação do "espirito do tempo". A história se passa em 1954. Anos antes, durante a guerra na Europa, Daniels havia integrado um dos regimentos que entraram no campo de concentração de Dachau, testemunhando ao vivo pela primeira vez seu horror. Agora os dias são de ameaça atômica e macartismo. Os dois médicos que chefiam a instituição (ambos "suspeitamente" europeus) parecem simbolizar a oposição entre a brutalidade e o humanitarismo, mas isso, como tudo no filme, pode ser apenas fingimento.

Se estivéssemos nos anos 80, "Ilha do Medo"" seria considerado um filme pós-moderno. Tudo é referência, revisão, artifício. Tudo é "simulacro". Nos últimos anos, Scorsese vem desenvolvendo um cinema de segunda mão, paródico (ainda que sério até demais) e submisso às ridículas reviravoltas de roteiro obrigatórias no cinema americano atual. Parece que vem agradando o público e a indústria, tanto que recebeu finalmente um Oscar por "Os Infiltrados" (2006).

Uma referência imediata de "A Ilha do Medo", reconhecida pelo diretor, é "Paixões que Alucinam" ("Shock Corridor", 1963), de Samuel Fuller. Ambos têm em comum não apenas o ponto de partida e o ambiente, mas o tom operístico, muito acima do registro realista, como se a loucura se espalhasse de forma contagiosa (nas palavras do agente Daniels para o médico interpretado por Ben Kingsley). A diferença é que "Paixões que Alucinam" tragava o espectador para seu redemoinho, enquanto "Ilha do Medo", embora não seja em 3D, arremessa imagens rebuscadas (e bregas), luzes intensas, cores berrantes e sons estrondosos para fora da tela. Se a ideia era vencer pelo cansaço, pode-se dizer que consegue.

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