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Ficha completa do filme

Drama

Jean Vigo Integral (1930)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 07/10/2008
Nota 5

Não é difícil compilar a obra completa do cultuado francês Jean Vigo (1905-1934) em um DVD duplo, afinal, a morte prematura do diretor, aos 29 anos, resumiu sua carreira a dois documentários de curta-metragem, um média-metragem de ficção e o longa "O Atalante".

Lírico, provocador e, em geral, surpreendente, Vigo era filho de outra lenda, o líder anarquista Miguel Almereyda. É inevitável associar o pai ao cinema do filho, que sempre gira em torno da crítica social bem-humorada e da valorização da iniciativa pessoal em detrimento das convenções.

O documentário mudo de estréia de Vigo, "A Propósito de Nice" (À Propos de Nice, 1930, 22 min), é uma irônica visão da então paradisíaca Nice. Com montagem cômica e debochada dos ricos, entediados, mas altivos, contrapostos aos pobres vivendo com mais intensidade e calor humano, apesar da sujeira da cidade. As contradições atingem seu clímax no carnaval, com imagens que se intercalam com tomadas do cemitério local.

"A Natação Segundo Jean Taris" (Taris, Roi de l'Eau, 1931, 9 min) é outro documentário cômico, passando por lição de natação irreverente e com linguagem que remete aos desenhos animados, onde o campeão olímpico Jean Taris mostra os macetes do esporte.

Novamente Vigo brinca na montagem e subverte o que seria um documentário sério sobre o assunto. "Zero em Comportamento" (Zéro de Conduite : Jeunes Diables au Collège, 1933, 41 min) é tão anárquico que ficou banido na França até o final da Segunda Guerra. É uma engraçada narrativa sobre quatro alunos rebeldes de um internato que visam transformar em caos o estabelecimento contra tudo e todos. Vigo, aqui, também apela para o surreal, com mágicas acontecendo na frente da câmera, um anão interpretando o diretor da escola e bonecos como convidados de um evento. Além da antológica seqüência dos alunos saindo para um passeio com o professor e se desgarrando dele, o que mais tarde seria copiado por François Truffaut em "Os Incompreendidos".

Por fim, "O Atalante" (L'Atalante, 1934, 89 min), costumeiro freqüentador das listas dos grandes filmes é um dos mais românticos de todos os tempos. Narra as aventuras de uma moça provinciana (Dita Parlo) que se casa com o dono de uma barcaça chamada Atalante (Jean Dasté), que percorre os canais de Paris. Quando ela se entedia vai procurar alegria na cidade grande, iniciando uma crise entre eles. O veterano cômico Michel Simon, o excêntrico tripulante da barcaça, rouba todas as cenas em que aparece nessa gema, que aborda com propriedade e humor as complexidades do amor, com muito erotismo, vigor, criatividade e sensibilidade.

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