Único filme de Fritz Lang (1890-1976) realizado na França. Logo depois ele iria para os EUA iniciar nova e vitoriosa carreira lá. Baseado em peça do húngaro Ferenc Molnár (que também inspirou o musical "Carrossel", de Rodgers & Hammerstein, filmado por Henry King em 1956), é uma fábula pouco conhecida sobre a transcendência da maldade e da justiça.
A idéia central é que o amor e a compreensão podem fazer mais pelo transgressor do que o castigo. Lembra bastante René Clair, pela visão terna e simpática das classes baixas parisienses e pela crítica bem-humorada às autoridades. Não é uma obra-prima do diretor (que, no entanto chegou a declarar ser seu melhor filme), em especial a primeira metade, na Terra, um pouco expositiva demais e até cansativa.
Mas tem uma delicada e sensível interpretação do muito jovem Charles Boyer, bonita fotografia do mestre Rudolph Maté, cenários e efeitos especiais muito criativos (principalmente nas seqüências no Céu e na porta do Inferno) e o clima de encantamento e sonho (ou pesadelo) característicos de Lang antes de sua ida para os EUA. Vale a pena conhecer.
Infelizmente a cópia é bastante ruim, sem contraste e tirada de uma matriz em mau estado. Intitulou-se também no Brasil "Coração de Apache" e "Coração Vadio".