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Ficha completa do filme

Drama,Guerra

Roma Cidade Aberta (1945)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2002
Nota 3

A má cotação é por causa da cópia do filme, escura, manchada, nem desculpável porque há problemas de conseguir um Master de qualidade na Itália. Mal recebido na Itália e esnobado em Cannes, o sucesso só aconteceu depois da estréia do filme em Paris, mas foi fenomenal. Ganhando três grandes prêmios em Festivais e escolhido como melhor filme pelos críticos de Nova Iorque.

Já disse que esta fita fez mais pela imagem do povo italiano do que uma centena de discursos. Sua influência foi sentida em praticamente todo o cinema italiano e a fórmula copiada até a exaustão. Aldo Fabrizi (1905-90) virou um astro famoso assim com Anna Magnani (1908-73), que na época namorava Rossellini (1906-77). O rompimento só aconteceria quando Rossellini engravidou Ingrid Bergman (1915-82), que por sua vez se apaixonou tanto por este filme, que escreveu uma carta de fã oferecendo-se para trabalhar com Rossellini.

De todos os filmes do movimento Neo-Realista do após-guerra italiano, nenhum é mais famoso do que "Roma, Cidade Aberta", realizado por Rossellini, que com a ajuda do roteiro de seu amigo Fellini, resume todas as principais lições da escola Neo-Realista: atores do povo, cenários naturais, histórias inspiradas no cotidiano, técnicas de improvisação. Planejado quando Roma estava sob o domínio nazista, o filme foi realizado com todo tipo de dificuldades, até mesmo falta de material e recursos, que acabam lhe aumentando o ar de autenticidade. Rossellini, o roteirista Sergio Amidei e um chefe comunista, haviam se refugiado no apartamento de um membro da Resistência, onde tomavam conhecimento da luta diária dos guerrilheiros, suas vitórias e derrotas. Todas as cenas foram rodadas nos locais onde se passaram os acontecimentos. Para pagar as despesas, Rossellini vendeu até seus móveis de quarto.

Originalmente era um filme mudo, não por gosto mas por necessidade. A película virgem custava 60 liras o metro no mercado negro, e as autoridades haviam dado permissão para rodar um documentário. A história conta os fatos reais entre 1943-44 quando um guerrilheiro comunista (Pagliero) se esconde na casa de um operário cuja noiva (Magnani) está grávida. Mas ele é traído por sua amante (Michi), uma cantora viciada, enquanto o padre (Fabrizi) defende sua fé até o fuzilamento (o personagem é inspirado em Don Morosini, executado pelos nazistas em 1944). Os tempos porém, não foram gentis com o filme, esse tipo de autenticidade reconstituída é hoje lugar-comum. O filme parece por vezes ingênuo, dramaticamente mal estruturado (o personagem mais forte morre meia hora antes do fim) e sem aquela dose de humanismo (ou seria melhor chamar de sentimentalismo?) que só Vitorio De Sica traria ao movimento.

É curioso como a poesia de "Ladrões de Bicicleta" resistiu melhor, enquanto a filosofia política de Rossellini soa falsa, principalmente na segunda parte, com as figuras sinistras da Gestapo, o tratamento melodramático do lesbianismo e das drogas, e com a mensagem claramente definida (em tempos de crise, todos se unem contra o inimigo comum, independente das crenças comunistas ou católicas.

Na verdade, o grande acontecimento do filme é mesmo Anna Magnani. Famosa como comediante, neste filme ela demonstrou pela primeira vez sua grande máscara de tragédia, de "força da natureza". As falhas de Roma são compensadas por ela. O rosto torturado e intensamente feminino de La Magnani, é o retrato de um país e de uma época. O filme tem porém uma boa edição em DVD. Sai na Coleção Rossellini.

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