Anjo Diabólico (1946)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2005

Nota 1

Como as majors geralmente recusam-se a lançar filmes clássicos menos conhecidos e em preto e branco no Brasil, outras distribuidoras se aproveitam da brecha e apresentam títulos mais difíceis e raros como este, que saiu em DVD no EUA como parte de uma coleção de clássicos do cinema noir.

O diretor americano (e cult) Neill (1887-1946), responsável pela maior parte dos filmes da série Sherlock Holmes, nunca ultrapassou a produção classe B, apesar do talento mais do que comprovado. Seu nome verdadeiro é Roland W. N. De Gostrie e nasceu num navio na costa de Dublin, de pais franco-irlandeses.

Começou como jornalista e foi correspondente de guerra na Revolução Chinesa de 1912. Em 1915 foi para Hollywood, onde começou a escrever letreiros de filmes mudos para o diretor Thomas H. Ince. No ano seguinte já estreava na direção (com "The Criminal"). Em 1924 teve como assistente Josef Von Sternberg.

Nos anos 20 trabalhou para a Columbia, mas em 1937 a Warner pediu para ele se mudar para a Inglaterra, onde iria substituir o diretor Ralph Ince, que havia morrido num acidente de carro. Em três anos fez 14 filmes ingleses. Um infarto em 14 de dezembro, em Londres, o matou prematuramente.

Esse é um bom exemplo de seu estilo e criatividade, um filme mal conhecido por aqui, mas celebrado pelos fãs do gênero. Foi feito logo depois que o ator Dan Dureya (1907-68) se revelou como um dos vilões mais famosos do cinema, com "Almas Perversas", de Fritz Lang ("Scarlet Street", 1945).

Ele realmente tinha um tipo especial, mal encarado e misterioso, e era bom ator, capaz de compor tipos ambíguos como o que faz aqui. Baseado numa história do famoso Cornel Woolrich ("Janela Indiscreta", de Hitchcock; "A Noiva Estava de Preto", de Truffaut), com um orçamento de filme B, ele conta uma história até banal e com final previsível, mas que se torna original pela maneira como é narrada, com muito clima, várias inversões de expectativa e reviravoltas.

Não chega a ser um grande clássico mas é o tipo do filme que vale se lançar e se valorizar em DVD. E que os fãs do cinema noir irão adorar. A cópia é muito boa.