UOL Entretenimento Cinema
 

Ficha completa do filme

Romance

O Retrato de Jennie (1948)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 10/06/2008
Nota 1

É um dos muitos filmes que o produtor David Selznick ("E o Vento Levou") realizou para sua mulher Jennifer Jones, numa produção complicada que chegou a estrear em algumas salas usando até um Ciclorama para dar maior ênfase às cenas finais de tempestade e acabou ganhando o Oscar de efeitos especiais.

A fita em preto e branco é em cores na cena final em que mostra o retrato e usa um filtro esverdeado para as cenas da tormenta. Uma das estudantes na cena final no museu depois viraria estrela na Metro, Anne Francis ("O Planeta Proibido"), que traz ainda Nancy Olson e a futura primeira dama americana Nancy Davis Reagan. Brian Keith foi extra na cena de patinação. O retrato de Jennifer usado no filme depois passou para a coleção privada da atriz e, anos mais tarde, para o marido seguinte dela, o milionário Norton Simon.

Ao custo de três milhões de dólares, uma enorme quantia para a época, e oito tumultuados meses de filmagem, o filme ficou em produção num total de 20 meses. Dizem que o fotografo Joseph August sofreu um enfarte e morreu como resultado de tanta pressão que sofreu. Usando câmeras antigas, ele procurou dar um tom antiquado e romântico a tudo. De qualquer forma, os excessos e o fracasso de bilheteria fizeram com que o produtor vendesse seu estúdio e o contrato que tinha com vários atores que havia descoberto, como Gregory Peck, Louis Jourdan, Rhonda Fleming etc.

Nos anos oitenta, quando estreou e fez muito sucesso no Brasil "Em Algum Lugar do Passado", com Christopher Reeve, era difícil explicar para as pessoas que ele nada mais era do que uma reciclagem deste clássico romântico, um dos mais emocionantes do gênero. Parece que o produtor não tinha confiança na sua própria mensagem porque utilizou várias epígrafes e citações - de Keats à Eurípides - além de um narrador que pretensiosamente se pergunta "o que é tempo? Espaço? Vida? Morte? Será que viver não é morrer ou vice-versa?" e afirma que é preciso ter fé para se envolver com mais facilidade na história.

Hoje em dia, em tempos mais místicos, não é preciso desculpas para convencer, nesta história sobre uma jovem que morreu sem ter conhecido o amor e seu espírito, como fantasma, retorna para encontrar o homem de sua vida. Como ela afirma em suas sete aparições, primeiro cantando uma musica misteriosa, de autoria de Bernard Hermann: " de onde eu venho ninguém sabe, para onde eu vou, todos vão". Com a ajuda de uma esplêndida fotografia, o filme delicadamente nos convence que um pintor (Cotten), encontra num parque gelado uma adolescente chamada Jennie Aplleton, que lhe deixa uma écharpe. No segundo encontro, patinando no mesmo parque, ele confirma que a jovem é muito misteriosa, filha de artistas de Vaudeville, um teatro já demolido, e deseja pintá-la.

A fita tem problemas com as tramas paralelas que não interessam. O fato é em que determinado momento , quando acerta a pintura do retrato dela, já se sabe que Jennie é um fantasma, que não tem consciência muito clara do que está fazendo ali. Isso só será resolvido num grande climax em Cape Cod, num lugar chamado Land´s End Point, onde finalmente o casal se reencontrará para toda a eternidade - como diz o longa "o tempo cometeu um erro, mas como ele esperou por Jennie, agora o amor de ambos será eterno".

Não há dúvida que esse é apelo irresistível para qualquer um que acredita no amor. E com uma tese muito interessante, já que a ciência diz que o tempo não existe, será que a pessoa certa para nós não poderia ter vivido em outra época e se desencontrado? E será possível existir um amor tão forte que resiste ao tempo? Essa hipótese desbragadamente romântica é muito bem contada numa direção perfeita, no tom certo de interpretação, de passagem de cenas e principalmente com um visual estilizado. Um delicioso delírio ainda pouco conhecido.

Compartilhe:

    Siga UOL Cinema

    Sites e Revistas

    Arquivo