Francisco, Arauto de Deus (1950)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2005

Nota 1

Lendária, rara e pouco vista versão do mestre neo-realista Roberto Rossellini (1906-77) da vida de São Francisco de Assis, trazida aqui em excelente cópia restaurada.

Não é propriamente uma biografia. Rossellini concebeu o filme (que tem roteiro de Federico Fellini, assessorado por dois frades franciscanos) como uma série de episódios, todos ternos e muito bem-humorados, do dia-a-dia do santo e de seus seguidores, separados por letreiros que anunciam o que será narrado, à maneira das obras religiosas medievais.

Mais do que apenas ilustrar sua vida, o filme tenta penetrar em sua fé e visão de Deus, com um resultado que emociona e é de universal compreensão e identificação. Seguindo a prática neo-realista, Rossellini colocou anônimos frades franciscanos para representar Francisco e seus irmãos (o único ator profissional é o comediante Aldo Fabrizi, que faz de forma histriônica o tirano Nicolau), obtendo uma autenticidade e sinceridades únicas, bem distantes da artificialidade das cinebiografias Hollywoodianas tradicionais.

Um belo e tocante filme, cuja mensagem de simplicidade, alegria e falta de artifícios na prática da fé não poderia ser mais atual.