Arenas Sangrentas (1957)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2006

Nota 1

Tem uma certa aura cult esta fábula baseada em um episódio real ocorrido na Espanha, que foi realizada pela RKO em locações no México, com elenco pouco conhecido. Em parte devido ao inesperado Oscar de Melhor História Original, de um certo Robert Rich, que ninguém sabia direito quem era e não apareceu para receber a estatueta. Só anos depois se revelou que era um pseudônimo do grande roteirista Dalton Trumbo (1905-76), então na lista negra da perseguição anti-comunista McCarthista e, portanto, impedido de assinar com seu próprio nome.

É justamente o currículo de Trumbo que nos estimula a procurar significados sociais na história do menino pobre que, contra tudo e contra todos, luta por seu touro de estimação, levado para a capital do México para morrer na arena de touradas. Com boa vontade dá para ver aí uma apologia dos direitos dos humildes, de seus valores e dignidade. Mas o fato é que tudo lembra muito os filmes com animais da Disney, com vários episódios idealizados em que tudo se resolve com simplicidade e as pessoas são boas e compreensivas, sempre gentis e honestas com o menino, feito pelo inglês (de pai brasileiro) Michel Ray, que não fez grande carreira e encerrou sua participação no cinema pouco depois com Lawrence da Arábia, em 1962.

A direção sóbria de Irving Rapper (1898-1998), lembrado principalmente por seus filmes com Bette Davis, a excelente fotografia do mestre Jack Cardiff e o elenco eficiente valorizam o filme, que no entanto nunca passa do simpático e bonito. Porém, para os que abominam touradas pode ser intolerável, devido à longa seqüência final na arena (e também à ambigüidade geral da posição do filme sobre o assunto). Foi indicado ainda aos Oscars de Montagem e Som. A cópia, provavelmente tirada de Laserdisc, é só razoável, com digitalização deficiente.