Kanal (1957)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2006

Nota 4

Segundo longa de Wajda, nome maior do cinema polonês, que com este filme se tornou sucesso mundial a partir de um prêmio que ganhou no Festival de Cannes (Prêmio Especial do Júri empatado com "O Sétimo Selo", de Bergman). Surgiu assim um novo cinema polonês.

Esta edição traz dois extras importantes, importados da Criterion: uma entrevista com Wajda e depoimentos do assistente de direção Janusz Morgenstern e o crítico Jerzy Plazewski. Também Wajda conversando com Jan Novak-Jezioranski, Mensageiro de Varsóvia (recordando seu papel no Levante e as decisões que foram tomadas). Aconselho assistirem antes o depoimento de Wajda (27 minutos), para entenderem melhor a situação histórica, para nós distante e confusa.

Acontece que o Levante foi um erro de cálculo dos resistentes poloneses, que acharam que os nazistas estavam fracos e decadentes. E pensando que os aliados iriam ajudá-los, isso levou a um massacre de 250 mil pessoas, enquanto os soviéticos esperavam na margem oposta do Rio, porque assim dominariam mais fácil a Polônia. Sem se envolver naquela briga.

Esse terrível e inútil heroísmo já começa na seqüência inicial quando um narrador apresenta os personagens e diz que aquele será o último dia da vida deles. Já dando um tom de tragédia épica para o filme, enquanto os personagens enfrentam os tanques inimigos e quase derrotados, são obrigados a mergulharem nos esgotos da cidade (Kanal quer dizer esgoto), andando pelo excremento em busca de uma saída (os dois finais tem um lado simbólico).

Tudo realizado com o proverbial talento do cineasta, elenco competente (mas o único que ficou conhecido é Vladek Sheybal, que faz o compositor e que depois iria para a Inglaterra e faria filmes como "O Namoradinho", "Mulheres Apaixonadas", "Cassino Royale"). Não tão brilhante quanto "Cinzas e Diamantes", mas junto com "Geração" forma uma notável trilogia.