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Amar e Morrer (1958)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 14/10/2009
Nota 5
Amar e Morrer

Douglas Sirk herdou de John M. Stahl (diretor do esplêndido "Amar Foi Minha Ruína") a habilidade de fazer belos melodramas. Iniciou, em 1953, um grande ciclo com algumas das maiores obras do gênero. Com seus heróis problemáticos e melancólicos, cheios de questões mal resolvidas ou perdidos em um mundo que não entendem, elevou à máxima potência o drama dos vencidos. Filmes como "Palavras ao Vento", "Chamas Que Não se Apagam" e "Tudo Que o Céu Permite" colocaram seu nome no panteão máximo dos grandes diretores dramáticos e foram influência confessa de inúmeros cineastas, com destaque para Rainer Werner Fassbinder e Pedro Almodóvar.

Em 1958, realiza seu penúltimo filme, e não seria exagero dizer que é um dos pontos máximos de sua carreira (há alguns filmes raros nos anos 40 que seria preciso conhecer). Trata-se de "Amar e Morrer", baseado num livro de Erich Maria Remarque, que narra uma história de amor durante a segunda guerra mundial, do ponto de vista dos alemães.

A história começa com um soldado de licença procurando por seus pais em sua cidade natal, que sofreu diversos ataques aéreos. Ele reencontra uma jovem, antiga colega de escola cujo pai foi mandado para um campo de concentração por ter falado demais, e se apaixona por ela. Os jovens iniciam uma relação em meio a uma Alemanha destroçada pelos aliados e um regime nazista ainda mais rude e intolerante.

Sirk consegue administrar com perfeição os ingredientes trágicos da história, e extrai de atores desconhecidos do grande público, como John Gavin e Liselotte Pulver, um desempenho consistente, criando cenas tocantes, daquelas que nos levam às lágrimas.

O diretor ainda tem o bom senso de mostrar poucas suásticas durante todo o filme, mesmo mostrando soldados alemães a todo instante. O que interessa a ele é o drama humano, suas cidades em ruínas e vidas em frangalhos. Não há grandes climaxes, muito menos sequências de impacto visual. Tudo se organiza de maneira a não deixar sequer um ponto de desequilíbrio. Temos assim um exemplo perfeito da clássica arte de narrar uma história.

Fassbinder escreveu que o romance de Remarque dizia que, se não fosse a guerra, o amor entre eles seria eterno, enquanto Sirk acredita que não haveria amor entre eles sem a guerra. Bingo.

Sirk constrói um relato em que todos os elementos se conjugam - daí a ideia de perfeito equilíbrio - e as situações pelas quais os personagens passam só seria possível naquele entorno, sobre as ruínas de uma guerra devastadora.

"Amar e Morrer" tem fotografia primorosa de Russell Metty, que explora as dimensões da tela larga com precisão. Klaus Kinski tem uma pequena participação como um funcionário da Gestapo. Mas a grande estrela é mesmo Douglas Sirk, que dirige com a elegância de um grande maestro.

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