Estômagos fracos devem fugir desse clássico francês de terror, meio horror, meio ficção-científica, dirigido pelo ex-cenógrafo de teatro e afamado diretor de curtas-metragens Georges Franju (1912-87), que teve uma curta mas extremamente interessante filmografia de longas.
Explícito e sanguinolento pelos padrões da época (o que é atenuado pela fotografia em preto e branco), com ecos do expressionismo alemão e do teatro Grand Guignol, é uma variante trágica das histórias de cientista louco, envolvendo culpa, remorso, crueldade e amoralidade, mas tudo com um toque de poesia.
Principalmente pelo uso de uma máscara delicada que encobre o rosto descarnado. Em um conjunto com clima bem sombrio e angustiante, cujo impacto torna-se maior ao lidar com o dia-a-dia, sem elementos sobrenaturais ou fantasiosos. Ou seja, que podia ocorrer com qualquer um.
Pouco conhecido no Brasil, Franju nos é apresentado por um de seus melhores trabalhos, em edição que traz cópia muito boa e também um de seus famosos curtas, o chocante e repugnante "Sangue das Bestas" ("Le Sang des Bêtes", 1948), sobre os matadouros de Paris, que faz um contraponto entre a vida e a beleza da cidade e a selvageria desses estabelecimentos. Inédito comercialmente no Brasil.