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Ficha completa do filme

Drama

Os Primos (1959)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 26/11/2010
Nota 4
Os Primos

O segundo longa de Chabrol, ''Os Primos'', lançado em 1959, é bem paradigmático do que seria a Nouvelle Vague, pois é ambientado no meio urbano da sociedade burguesa que ele tão bem explorou na maior parte de sua carreira.

Charles (Gérard Blain) é o interiorano introvertido que vai para a capital prestar vestibular, e fica hospedado na casa do primo, Paul, playboy afetado vivido por Jean-Claude Brialy.

Charles passa o tempo todo estudando, enquanto Paul, que também fará vestibular, passa o tempo todo na gandaia, muitas vezes atrapalhando o pobre primo. A ironia pode ser antecipada pelo espectador em algumas cenas: Paul passará nos exames, Charles não. Alguma moral envolvida? Aparentemente não. Mas Chabrol não deixa de dar sua habitual cutucada nas instituições francesas, nesse caso, a universidade.

O olhar voltado para a burguesia é capaz de nos apresentar a comportamentos verdadeiramente animalescos, numa aproximação do retrato feito por Luis Buñuel em diversos filmes, com destaque para ''O Anjo Exterminador'', de três anos depois. Em determinadas situações, reagindo a impulsos que não são correspondidos, esses burgueses viram selvagens. É o que nos mostra Chabrol, principalmente durante uma festa movida a bebidas e mulheres fáceis - o que provoca a revolta em um barulhento executivo italiano que ficou sem companhia.

Os atores estão ótimos, principalmente Brialy e Blain, que parecem guiar de alguma forma o processo de encenação de Chabrol, já que trabalhavam em filmes de prestígio desde meados dos anos 1950.

Em uma participação discreta podemos ver Stéphane Audran, que se tornaria esposa do diretor cinco anos depois, e uma das atrizes mais respeitadas do cinema francês, intérprete ideal de um certo tipo de mulher, urbana, burguesa e infiel.

A câmera leve percorre os ambientes de Paris com a destreza de um veterano, e o filme é prejudicado apenas por um final apressado e um tanto desleixado.
Chabrol iria trabalhar melhor seus desfechos em filmes posteriores, e sua direção se aprimoraria sensivelmente. Mas rever ''Os Primos'' atualmente nos remete ao princípio de um dos momentos mais ricos do cinema moderno, um cinema feito principalmente por jovens muito talentosos (ainda que esse talento, na maioria das vezes, precisasse ser ainda lapidado), e por isso este lançamento é mais do que bem-vindo, é essencial.

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